Mãe, vou ser deputado.

Eis um país ditoso, o que agora dispensa o Estado Social. Milhões de portugueses desdenham a educação pública, a saúde gratuita ou a ajuda na pobreza. Não há cabeleireira em Fanhões ou porteiro em Alpiarça que não confie nas mais-valias de uma capitalização bolsista para enfrentar os imprevistos. Os nossos bancos incham com as poupanças de aforradores cordatos que suportarão um dia longos internamentos em hospitais privados se a apólice da Médis, desafortunadamente, ignorar aquela moléstia incurável. E o que é o desemprego senão preguiça, pieguice, vadiagem? Devemos subsidiar o ócio, quando a nação suplica por quem trabalhe?

Não, não, não. Em vez de direitos adquiridos, ambicionamos o emproendodorismo e a flexubililidade labural. Somos adeptos de soluções novas e, mais ainda, de novas soluções. É como uma revolução, mamã. Mas assim, pá, fixe e tranquila, tás a ver.

12 pensamentos sobre “Mãe, vou ser deputado.

  1. A mamã sorriu e pensou no que terá falhado na educação do seu pequeno. Tal desvario, se bem que eventualmente assegurasse um futuro risonho e despreocupado, apontava algures uma falha sua. E agora o grande pequeno iniciava já a fixe e tranquila revolução com os comparsas de escola. E juntos iam mudar o mundo, de alguém. “Tás a ver mamã?”

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  2. lembras-te daqueles coleguinhas de escola, os “engracadinhos” que tinham a mania que eram mais que os outros? os betinhos meninos da mamã e do papá, filhos dos “doutores” que eram amigos da professora?

    cresceram e estão a tomar conta do país.

    é isto que está a acontecer. nada que nao estivesse previsto.

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  3. Não são nada milhões de portugueses, que exagero. A pobre da cabeleireira de fanhões, se não for dona do salão, o que mais deseja é poder pagar a mensalidade das refeições dos filhos na escola pública. O cartaz é coisa de jotas, a juventude fexivel com futuro nada precário e com direitos adquiridos a mandar nesta merda, como diria o MEC. A cabeleireira quie se faça esperta e se inscreva na juventude, se ainda for a tempo, para garantir um lugar na câmara para o filho.

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    1. Talvez. Mas a cabeleireira de Fanhões deve ser a que vocifera contra o rendimento mínimo para a ciganada, e os subsídios de desemprego para quem não quer trabalhar.

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