Eis um país ditoso, o que agora dispensa o Estado Social. Milhões de portugueses desdenham a educação pública, a saúde gratuita ou a ajuda na pobreza. Não há cabeleireira em Fanhões ou porteiro em Alpiarça que não confie nas mais-valias de uma capitalização bolsista para enfrentar os imprevistos. Os nossos bancos incham com as poupanças de aforradores cordatos que suportarão um dia longos internamentos em hospitais privados se a apólice da Médis, desafortunadamente, ignorar aquela moléstia incurável. E o que é o desemprego senão preguiça, pieguice, vadiagem? Devemos subsidiar o ócio, quando a nação suplica por quem trabalhe?
Não, não, não. Em vez de direitos adquiridos, ambicionamos o emproendodorismo e a flexubililidade labural. Somos adeptos de soluções novas e, mais ainda, de novas soluções. É como uma revolução, mamã. Mas assim, pá, fixe e tranquila, tás a ver.
A mamã sorriu e pensou no que terá falhado na educação do seu pequeno. Tal desvario, se bem que eventualmente assegurasse um futuro risonho e despreocupado, apontava algures uma falha sua. E agora o grande pequeno iniciava já a fixe e tranquila revolução com os comparsas de escola. E juntos iam mudar o mundo, de alguém. “Tás a ver mamã?”
GostarGostar
Se a mamã não lhe tivesse chamado “Bernardo” ou “Salvador” já seria uma grande ajuda.
GostarGostar
lembras-te daqueles coleguinhas de escola, os “engracadinhos” que tinham a mania que eram mais que os outros? os betinhos meninos da mamã e do papá, filhos dos “doutores” que eram amigos da professora?
cresceram e estão a tomar conta do país.
é isto que está a acontecer. nada que nao estivesse previsto.
GostarGostar
Não são nada milhões de portugueses, que exagero. A pobre da cabeleireira de fanhões, se não for dona do salão, o que mais deseja é poder pagar a mensalidade das refeições dos filhos na escola pública. O cartaz é coisa de jotas, a juventude fexivel com futuro nada precário e com direitos adquiridos a mandar nesta merda, como diria o MEC. A cabeleireira quie se faça esperta e se inscreva na juventude, se ainda for a tempo, para garantir um lugar na câmara para o filho.
GostarGostar
Talvez. Mas a cabeleireira de Fanhões deve ser a que vocifera contra o rendimento mínimo para a ciganada, e os subsídios de desemprego para quem não quer trabalhar.
GostarGostar
Está certo. Os pobres são tramados uns para os outros. Falta de consciência de classe.
GostarGostar
Caro Luís. Você está cada vez mais objectivo, analítico mesmo. Há que tempos que não falha um “tiro”. Parabéns. Mesmo que não sirva para nada. Como muito bem sabemos.
GostarGostar
Fernando, não se habitue que a coisa geralmente dura pouco. Um abraço.
GostarGostar
Raios, quando estou de acordo não me dá para comentar.
GostarGostar
Aí, que surpresa a minha.
GostarGostar
excelente texto.
GostarGostar
Gracias.
GostarGostar