A documentreta.

Estive a ver Donos de Portugal, documentário disponível em todos os blogs de esquerda perto de si. O tom geral de demonização da riqueza não faz algumas distinções importantes, misturando o trajecto de Champalimaud (uma fortuna originária do condicionamento industrial e refeita sob protecção política com financiamento público há duas décadas) com o de Belmiro de Azevedo, sobre quem se lançam umas vagas suspeitas de ter ganho dinheiro em bolsa e encontrado um investidor secreto no princípio da carreira (você não investiria em Belmiro há trinta e tal anos? Azar seu).

E é pena, porque as vinte famílias do capitalismo bizantino (como lhe chamam em Itália) mereciam algum enfoque no enxovalho. Viveram da nossa pobreza, prosperaram com os nossos impostos, usaram a nossa polícia política, manipularam os nossos Governos.

Confundir os Espírito Santo com um Soares dos Santos (que ganha o que lhe compete nas mercearias finas) em nada contribui para a economia, a democracia ou o juízo crítico da opinião pública.

14 pensamentos sobre “A documentreta.

  1. Ironicamente o documentário pode acabar por levar quem o vê a a concluir que a intervençao do Estado na economia está de tal forma condicionada por grupos de interesses que o melhor é mesmo desregular e intervenir o menos possível por forma a fazer menos mal
    Tal como disse o escorpião, “nao posso evitar, é da minha natureza”. É essa a conclusao que tiro deste documentário.

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      1. Exacto, é um panfleto que escreve a verdade, nua e crua, do passado recente do nosso país, e que explica o seu momento actual.

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          1. Não está. O que este documentário (e esta crise) ns diz é que urge legislar a figura do funcionário público (seja ele o simples funcionário da repartição das finanças, seja o secretário de estado ou mesmo o ministro), de modo a que este não venha a lucrar de forma ilícita por ter desempenhado cargos públicos.

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    1. Caro Guilherme,

      Essa extrapolação não faz sentido.

      O que deve ser regulado, e muito bem legislado, é a classe política, ou seja, os cargos públicos devem ser legislados de forma a que, finda a carreira política, não se possa transitar para os privados e assim beneficiar com aquilo que legislou enquanto esteve ao serviço do Povo, apenas para servir os seus interesses pessoais.

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      1. Portugal já produz legislaçao às toneladas, por ai nao vamos longe. Se houvesse coragem para aplicar metade da legislação existente talvez não estivessemos no buraco em que estamos. Digo mais, quanto mais legislaçao criarem mais facil será para eles fugirem à lei. Há muitos advogados por metro quadrado na Assembleia da Republica

        O documentário pretendia divulgar a promiscuidade entre o poder politico e os grandes grupos economicos mas acaba por fazer uma enorme “salada de fruta”. Mete tudo o que é empresário ao barulho e perde toda a credibilidade.

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  2. Eu diria que é díficil, senão impossível, documentar estes temas (que são
    desconhecidos da maior parte das pessoas) em cerca de uma hora. Faça-se o que se fizer, vai sair manco, pouco claro, superficial e com falta de documentos em suporte seja das teses, seja dos factos apresentados.

    Um trabalho desta natureza e com esta ambição exige uma série de vários episódios de modo a esclarecer, por exemplo, os seguintes pontos.

    1) saber se as descrições dos factos apresentadas são exactas, completas
    e representativas

    2) comparar as ligações ao estado de que estas famílias beneficiam, o
    tipo de negócios e actividades produtivas em que estão envolvidas, com a estrutura económica de outros países democráticos funcionando em economia de mercado e comparáveis em dimensão (e.g. Holanda, Suécia, Bélgica, etc)

    3) avaliar o tipo de actividades de mecenato, criação de fundações de
    apoio ás artes e à ciência, em comparação com o que se passa em outros países.

    etc etc

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      1. Não só. A existência de potenciais conflitos de interesse entre quem privatiza no governo para depois ir gerir é muito pertinente. Por exemplo.

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