Opinião pública.

Para alguma coisa há-de servir lermos Júlio Dinis: sempre nos dá um retrato do Portugal caciqueiro, sabujo e vil que antes de gritar merda repara no lado de que a merda vem.

Assistir ao comportamento da opinião pública nestes dez ou vinte anos em que foi passando das mercearias para os blogs e dos terços a Salazar para as invectivas em economês é um exercício doloroso e acabrunhante.

Os que fustigaram Cavaco por ser um parolo novo-rico, autoritário e rodeado de corruptos foram os mesmos que perdoaram a Sócrates a saloiice de fatinho laroca, o despotismo e a máfia que agora ocupa os conselhos de administração dos empreiteiros.

Não se espere mais consciência cívica dos apoiantes deste Governo. Às suspeitas sobre ministros respondem com um assobio para o ar, ao saque dos lugares públicos com um sorriso amarelo, às incursões ansiosas nos media com um encolher de ombros, às privatizações que se preparam sabe deus como dedicam silêncios fecundos, ao abuso das polícias uns considerandos filosóficos.

A única ética que sensibiliza a opinião pública lusitana é a que se pratica no comentário aos jogos da Liga: os nossos filhos da puta são melhores que os filhos da puta dos outros. Eis o seu credo e o fundamento da sua razão prática.

Que uma democracia sobreviva e frutifique entre gente assim é um milagre. Mas os milagres não existem, não se merecem nem, como veremos, costumam ser eternos.

11 pensamentos sobre “Opinião pública.

  1. E o comportamento que refere vem, por vezes, donde menos se esperava — ou melhor, falo por mim: donde menos eu esperava.

    (e prometo que foi o último comentário a este post :-))

    Gostar

  2. Já li o post… não sei se hei de ficar triste ou alegre…
    A grande diferença, eventualmente, entre os dias de hoje e os do ciclo passado, é que dantes o dedo que apontava era o indicador, agora, tenho a sensação que é o médio…

    Gostar

Deixe um comentário