Seria fácil descrever o longo pontificado de João Paulo II como um combate entre a civilização e a barbárie.
À civilização — piedosamente agnóstica (para não dizer impiedosamente ateia), fina, centrada no século, permeável à moda, seduzida pelo corpo, viciada numa concepção bastante tagarela da beleza — opunham-se os hunos da Polónia, que iam descalços para Fátima com os bracinhos em coto, engoliam repolho ao almoço e berravam vade retro à passagem de um homossexual (exercício aparentemente infrutífero, se pensarmos nos vários escândalos que sacudiram o mandato).
A civilização ocupava-se de assuntos importantes, como a legalização das drogas leves ou a defesa do cinema francês. Os bárbaros, por seu turno, brandiam tremulamente o crucifixo contra as assassinas de fetos mal formados e prometiam labaredas a quem separasse o matrimónio do prazer (como se as duas coisas, aqui entre nós, alguma vez tivessem andado misturadas).
A civilização era portanto apolínea, cínica, blasé — enquanto a barbárie se mostrava tão ruidosa e apopléctica como o João Gonçalves num dia mau.
Até que chegou Ratzinger, e o nosso sossego acabou.
(Continua)
Mas alguém já apanhou o João Gonçalves num dia bom?
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O primeiro episódio promete tanto que talvez fosse prudente ficares por aqui…
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Sim, Pedro: no início da quaresma.
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Pois é, João, não sei se consigo manter a “panache”.
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«Mas um dia chegou Ratzinger, e o nosso sossego acabou.»
Isto promete. Imagino o raciocínio que se segue, e aguardo com gosto antecipado que o desenvolves.
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Outra coisa: por que é que um tipo que escreve assim há-de andar a perder tempo com blogues?
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Porque isto é a minha ginástica, João. Mas agradeço o cumprimento.
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Lamento informá-lo, mas os sensatos, honestos bárbaros sabem que o matrimónio e o prazer são duas coisas si tellement differentes que o primeiro até produz nados vivos – e os alimenta e atura anos a fio.
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Muito bom. A ginástica dá saúde e faz crescer (so far).
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Esta semana, infelizmente, não me vou dedicar muito a ela.
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«Apolínia», que belo adjectivo. E muito bem aplicado, como aliás é costume.
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Mas como é que alguém pode ser contra o cinema francês quando a Mademoiselle Tautou está lá?! 😉
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