Numa cerimónia discreta, as cinzas do malogrado Carlos Castro foram ontem derramadas para o respiradouro de uma estação de metropolitano da Broadway, perto de Times Square. Lá em baixo, na plataforma da rua 42, Martin Ribashkin sacudiu algumas partículas de caspa do sobretudo de caxemira. O jovem Abdul Qasim Malik tragou um shish kebab com inesperado sabor terroso. Lamar Williams teve outra crise de asma e perdeu o transporte para Coney Island. Duas estudantes japonesas fotografaram os passageiros recortados pela atmosfera turva, porosa, quase espectral. A mais nova estagiária da High Life, periódico de mexericos e vernissages, espirrou três vezes e sentiu uma súbita inspiração.
Aha, excelente, Luis Jorge!
GostarGostar
Estamos aqui para o servir cada vez melhor.
GostarGostar
É absolutamente espantoso. E eis que não me refiro a este magnífico post deste estimável estabelecimento.
GostarGostar
Tudo, neste caso, é um estímulo à imaginação.
GostarGostar
O Conan O’Brien não diria melhor. Só faltou pôr ai um junkie a snifá-lo. O mais espantoso é que não tenha sido autorizado o lançamento de cinzas no rio, e tenha sido autorizado para o metropolitano. Mas a malta que anda de tranporte público na América, e para mais em subterrâneos, é uma sub-espécie de proletariado que deve ter menos valor do que os peixes.
GostarGostar
No rio existem espécies protegidas, suponho.
GostarGostar
sim, sim, peixes com três olhos e duas cabeças, como na Springfield, dos Simpsons.
GostarGostar
“uma cerimónia discreta”, hehehe
Decididamente, eu vejo demasiados filmes. Esta cena lembra-me logo dois: “the big Lebowski” e “o pecado mora ao lado”.
Este caso não acaba mais? Depois da barbárie e do grotesco, entrou na fase do macabramente ridículo.
GostarGostar
Helena, julgo que essa qualificação carregada não faz justiça ao assunto. Trata-se de um belo final, se o tentar pensar como uma escritora. Que outro se adequaria mais?
GostarGostar
Cala-te, Helena. Não fales disto, Helena. Olha o respeito pelos mortos, Helena. Olha que as irmãs não fizeram por mal, Helena. Se calhar ficaram ainda mais chocadas que tu com o que acabou por acontecer, Helena. Cala-te, Helena. Não te metas nisto, Helena.
(hint: a “caspa do casaco” não foi ficção)
GostarGostar
Explique lá este comentário, faz favor. Acho que não me percebeu.
GostarGostar
É que eu estou mortinha por passar este link, e ando aqui a repetir como um mantra “cálatilena-xtáquietailena”.
GostarGostar
É muito fixe. O João Lisboa já o tinha posto no estaminé.
GostarGostar
And everybody had their WTF moment.
(What the fuck ??…)
GostarGostar
I know.
GostarGostar
houve quem considerasse a cerimónia um “acto hostil”
http://dn.sapo.pt/inicio/pessoas/interior.aspx?content_id=1759517
GostarGostar
Lol. Vamos ser expulsos da Nato.
GostarGostar
Um leve sopro no ar e tenho em crer que fechavam o aeroporto, julgando tratar-se de cinzas vulcânicas.
GostarGostar
Isso era romantismo.
GostarGostar
Se não fosse a necessidade de publicitar o evento, não surgiriam problemas legais. Se eu quisesse que as cinzas de um parente ficassem em Nova Iorque, nada me impediria de as despejar em Times Square à luz do dia. Isto tem um lado comovente, um lado cómico e um lado trágico. O morto, que tanto amava NY, vê-se de repente, depois de transformado em carbono inerte, considerado ameaça química pelos nova iorquinos.
GostarGostar
“Isto tem um lado comovente, um lado cómico e um lado trágico.”
Exacto.
GostarGostar
Fantástico!
GostarGostar
hehehe.
GostarGostar
poderá ser de mau gosto, mas não resisto a enviar o que há dias recebi: se as cinzas fossem lançadas no metro, os combóios passariam apenas a andar de marcha atrás….
GostarGostar