Mau sexo.

A Literary Review deu justa fama aos Bad Sex in Fiction Awards, que testam anualmente a benevolência dos notáveis  — em 2010 Jonathan Franzen integrava a shortlist, e em 2009 o prémio foi concedido a Jonathan Littell. Não sei se algum deles reconheceu com brio a ambígua distinção.

Até hoje não vi explicado porque é que bons escritores enchem parágrafos atrás de parágrafos com falos erectos e entumescidos. Arrisco pensar que talvez os homens se concentrem demais na mecânica do acto sexual. Ou talvez o seu talento seja perturbado por uma rejeição ansiosa da pornografia. Ou então existe uma incompatibilidade entre os centros nervosos responsáveis pela estética e os que se encarregam de desembaraçar a líbido.

Agora, por um motivo desconhecido, pensei noutra coisa: que o mau sexo, na literatura, provém de um conhecimento prático mas irreflectido do desejo. Qualquer palerma se deixa seduzir por uma adolescente de mamas grandes, e nenhuma cabeleireira resiste a um macho alfa com boa estrutura óssea. Mas Anita Brookner descreve-nos, num dos seus livros, uma mulher que olha para o espelho e se espanta por ter ainda admiradores. A imagem que ela vê é a de um corpo desmaiado, que ficaria melhor numa revista de medicina do que num boudoir. Eppur si muove.

Ou seja, o que falta à má literatura sobre sexo não é estilo, é insight e reflexão.

14 pensamentos sobre “Mau sexo.

  1. Faltará porventura aos plumitivos [ainda que «bons escritores»] entumescer a reflexão e o sentido estético, harmonizando-os. Nem todos podem exercer o múnus raro da Graça, meu caro Luís.

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      1. Para eles, é tudo pesquisa literária. 🙂

        (o sexo, quando é bom, é indescritível, porque nem nos recordamos exactamente do que fizemos, por que ordem fizemos, etc. eu, pelo menos, nunca tirei apontamentos… 😉 fizemos — e é tudo)

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  2. Não sabia que o Jonathan Littell tinha ganho esse prémio em 2009, mas fico muito aliviada por saber que não estou sozinha. Não se pode é dizer que o Philip Roth oscila entre boas e más passagens sobre o tema, isso é que não.

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  3. Uma vez, quando entrevistei o Martin Amis, ele recordou-me uma frase do pai, o escritor Kingsley Amis. Dizia ele que quando um casal passava a porta do quarto, o melhor era deixá-los na sua intimidade. Nunca mais esqueci o sábio conselho

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