O que nos tiram.

No texto de António Guerreiro que citei antes é denunciada a “repetição monótona” de “argumentos e dispositivos retóricos” por uma casta de que Helena Matos e João Carlos Espada são retirados como exemplo.

Mas parece-me que António Guerreiro não alcança os limites da sua própria observação. Não são apenas Helena Matos, João Carlos Espada e um punhado de sectários ou imbecis quem repete temas, argumentos e retórica: somos nós, por reacção.

Porque se não o fizermos eles ocuparão todo o campo do discurso público com essa monomania. O nosso combate contra a direita, contra as obsessões e o ressentimento da direita, expõe-nos ao risco mencionado por Nietzche quando escreve que se olharmos para um abismo também o abismo olha para nós.

Precisaremos de muito humor para que o esterco não triunfe.

12 pensamentos sobre “O que nos tiram.

  1. “O nosso combate contra a direita..”
    Jasus credo, que foi isto?
    Saudades dos posts a viver acima das possibilidades pela Sereníssima…

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  2. Caríssimo Luís, a pior vingança virá em breve quando o Reino da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte tiver de adoptar uma Constituição escrita de matriz federal para continuar a ser «Reino Unido»; de um só golpe, lá irá pelo cano abaixo a tão decantada «tradição excepcionalista anglo-saxónica»…

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    1. Não há risco. Existe já um Reino Unido desde o Botswana ao Canadá e ninguém se chateia. Fazem de conta que têm um rei em Inglaterra, para, pelo menos uma vez em cada século, poderem tirar as pratas do armário para a visita dos soberanos. Os escoceses, um dia, também farão parte da gloriosa Commonwealth. Esses têm a vantagem de um dia, durante uma noite de bebedeira, poderem virar os pipelines do petróleo para baixo e abrir as torneiras para pintar de negro os prados verdejantes. Eu tenho a impressão que alguns dos nossos deslumbrados pensam que os ingleses, mais do que não terem constituição escrita, não têm leis escritas; é tudo tradição. A propósito, no outro dia, um cronista do Público contava, deslumbrado, que os boletins de voto são lá preenchidos com lápis por causa da chuva.

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  3. A esquerda não precisa nada de mais humor, Luís Jorge. A direita já todos os dias se queixa que a esquerda monopoliza o humor. Não é preciso ser-se cristão para se ser caridoso. Vamos formar um Banco do Humor. A malta de esquerda quando lhe der ânsias de ter graça, deposita lá e a direita vai lá buscar, com a filharada atrás, um pacote para cada um. Mas humor saudável, nada de fast food e enchidos, mais do tipo ditos espirituosos do Padre Cruz. Em alternativa, cada família de esquerda podia ter o seu pobrezinho de espírito a quem desse todas as noites, à porta, uma piada, com o solene aviso de que não fosse dizê-la para as tabernas. A esquerda também já domina os jornais, as rádios, televisões e facebook. Aliás, a comunicação à distância foi inventada pelo camarada Marconi. A direita apenas domina a arte da conversação a dois ou a três, sentados em cadeiras, a comunicação transcendental com o divino, nas igrejas, e a arte de chamar os touros na arena. Nem percebo o alarido da direita com aquele projecto de controlo prévio dos media nas eleições. Depois queixem-se. A direita, para além de não ter humor, é burra. Dá vontade de chorar.

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