Vergonha.

Ontem divulguei este assunto com alguma cautela, porque nem queria acreditar que fosse possível. Hoje sei que é:

O jornalista Pedro Rosa Mendes confirmou, em declarações ao PÚBLICO, ter sido informado, por telefone, que a sua próxima crónica, a emitir na quarta-feira, será a última da sua autoria. “Foi-me dito que a próxima seria a última porque a administração da casa não tinha gostado da última crónica sobre a RTP e Angola”, diz o jornalista, por telefone, a partir de Paris.

“A ser verdade, esta atitude é um acto de censura pura e dura”, sustenta o jornalista, que aborda nessa crónica a emissão especial que a RTP pôs no ar na segunda-feira, 16 de Janeiro, em directo a partir de Angola. A chamada telefónica que serviu para anunciar-lhe o fim deste espaço de opinião foi feita por “um dos responsáveis da Informação” da Antena 1, continua o jornalista, que não quis especificar quem daquele departamento lhe comunicou aquela decisão.

Rosa Mendes critica a emissão do programa televisivo Prós e Contras da RTP feita a partir de Angola, com a participação do ministro português que tutela a comunicação social, o ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas. Porém, o jornalista entende que “com tudo o que está em causa, foi uma crónica contida”. Aliás – prossegue –, a ser verdade que tenha sido dispensado por causa do teor desta crónica, essa decisão seria “muito estranha”, porque ele não foi “a única pessoa a ficar desagradada com a natureza e o conteúdo da emissão da RTP”. “Houve outras opiniões negativas nestes últimos dias”, aponta.

Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete do ministro Miguel Relvas declinou comentar o assunto, limitando-se a dizer que “é uma decisão exclusivamente do foro editorial da RDP”.

O PÚBLICO também questionou a administração da RTP, mas ainda não obteve resposta.

A RTP e o Ministro dos Assuntos Parlamentares não podem refugiar-se no silêncio ou na alusão sonsa ao foro editorial dos serviçais. Por menos que isto, a anterior oposição fez manifestações contra Sócrates. Espero agora o mesmo ardor na defesa da liberdade.

14 pensamentos sobre “Vergonha.

  1. Pois é, pois é…Angola concerning, o gabinete de Relvas tem lá gente muito sabida, muito dúctil, de opinião menos firme do que a gelatina Royal.

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  2. Uma vergonha, Luís — mais uma. E tem razão: por muito menos a anterior oposição fez manifestações contra Sócrates. Aguardo, pois, a reacção dos Crespos e das Matos, entre os quais se encontram muitos e muitos bloggers que, de manhã, devem lavar a cara com mijo — e aguardo sentado, claro.

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          1. Repito o que escrevi hoje, em resposta a uma pessoa que comentou no meu blogue. Portugal precisa de gente independente como um faminto de pão para a boca. E é absolutamente incrível como parece não haver ninguém que seja verdadeiramente independente — e não me refiro apenas à independência de partidos, mas de todos os tipos de interesses.

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            1. Por isso o meu voto no início deste ano (derrotado à partida, eu sei…) é que este ano fosse o ano da ética. Convenhamos que a independência absoluta não deve existir, digo eu. Também por isso a ética é tão importante. Sendo impossível a neutralidade ética (só se esquecem uns valores para se promoverem outros etc.etc.etc.) isso obriga-nos a ser cristalinos.

              [Estou velhota, está bom de ver]

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  3. E a seguir quem falar da China e, depois, da Alemanha, e depois…a soberania perde-se quando nos compram. Somos um estado soberano. Somos um estado soberano? Então portem-se como um governo de um país com séculos de história.

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