Uma democracia.

Fui mais vezes a Espanha em 2010 que nas quatro décadas anteriores. Fiquei a gostar muito daquela gente que come fritos, bebe cañas e fuma como se não houvesse amanhã. Acima de tudo, encantou-me trabalhar com espanhóis.

A quantidade de bulshit diminui consideravelmente mal se atravessa a fronteira. A conversa de merda, essa tradição portuguesa, nunca perturba as reuniões com nuestros hermanos. É um país que se revela a criar empresas, a fazer produtos e a obter resultados.

Pensei nisto hoje enquanto procurava notícias sobre as eleições regionais: Bambi perdeu em toda a linha. Ora, ao contrário da direita portuguesa nunca embirrei com Zapatero. Sei que o PSOE aprovou o casamento gay, como lhe competia, e que depois se dedicou a intervir nos costumes com algum exagero. Mas não consigo avaliar se corrompeu a economia, se tomou de assalto as estruturas intermédias do Estado, se manipulou a justiça ou se coarctou a liberdade de imprensa como fizeram os socialistas portugueses.

Uma coisa é certa: os espanhóis parecem acreditar que um mau Governo deve ser castigado nas urnas. É uma ideia exótica, difícil de exportar para o nosso lado da península. Nisto revelam concepções muito diferentes da eficácia política e do confronto democrático.

Que Portugal se arraste enquanto Espanha progride é apenas mais um sintoma da nossa escassa capacidade de regeneração.

21 pensamentos sobre “Uma democracia.

  1. Olé! O que Zapatero fez em Espanha não tem nada a ver com o que Sócrates fez por cá. Zapatero tem muitos defeitos, como a irresistível tendência para a asneira ou o entusiasmo capaz de fazer bocejar uma estátua de mármore, mas não é o mentiroso compulsivo, nem o tipo moralmente baixo que tivemos como primeiro-ministro nos últimos seis anos.

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  2. Subscrevo, Luís. São orgulhosos, e com razão, porque sabem que deram ao mundo do melhor que há ou houve em (quase) todas as áreas. São alegres, combativos e frontais. Estão vivos.

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  3. Mudar este algoz que nos pastoreou é um dever cívico de extrema urgência. É apenas e só um imperativo de decência. Não vale a pena esgrimir com os “Marcos Antónios” desta vida. Um problema de cada vez.

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  4. Caro Luís M. Jorge,

    Dou-lhe razão, Espanha é um país vigoroso, alegre, pujante e isso é muito evidente em grandes centros urbanos como Madrid ou Barcelona ou Sevilha ou Donostia. Ainda há pouco tempo, tendo chegado de Madrid, escrevi a diferença abismal na atitude dos cidadãos espanhóis face aos portugueses: (http://umjeitomanso.blogspot.com/2011/03/portugal-anestesiado-alienado-num.html).

    Mas já trabalhei várias vezes com empresas espanholas em áreas diferentes de actividade e, de todas as vezes, a minha opinião não foi nada abonatória – recomendo até alguma prudência em trabalhos em parceria. Se tiver tempo e paciência, convido-o a ler um post que escrevi há cerca de 1 mês sobre a minha opinião relativamente ao que é trabalhar com pessoas de algumas nacionalidades, entre as quais a espanhola. (http://umjeitomanso.blogspot.com/2011/04/espanhois-franceses-holandeses.html).

    Cumprimentos,

    JM

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  5. Eu também quero ser espanhol. Esta é uma característica da nossa psique colectiva subalterna. Eles são de facto muito empreendedores, mas, para os seus geniais empreendimentos modernos, será que também pagam a horas aos portugueses que escravizam nas pocilgas e na apanha das frutas, a quem nem sequer pagam? Sim, eu gostava de ver os espanhóis lá em cima e nós cá em baixo, mas depois vou ler os milhares de comentários dos espanhóis populares (a vox populi) no jornal Marca, por exemplo, e verifico como são xenófobos e, desculpem, um bocadinho atrasados mentais, prontinhos para o PP ou pior. Também quereria ser espanhol, mas não desses que iriam agigantar ainda mais o gigantesco “paro” deles.

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  6. Me cago en la leche…! Donostia? Um nacional a preferir o euskera a um São Sebastião? E uma óstia, não? Gasteiz? Iruña? Lleida? Acoruña? Mau…

    A última vez que estive em Madrid, tomei o pequeno almoço todos os dias num “garito” de gente que trabalhava por turnos. A empregada do balcão – que servia acompanhada pela mãe – era uma andalusa de Cádiz. Sempre com um sorriso ofuscante, uma alegria inabalável, servindo” cafés con leche” e “tostadas con tomate”, cumprimentando toda a gente, numa voz que era um Sol de se ouvir. E, vibrante de felicidade cantava: -“Que mala está la vida!”

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  7. Olá Luis. Voltei a este post porque, tal como você, também tenho ido várias vezes a Espanha nos últimos doze meses, por razões profissionais. Ainda ontem voltei de Madrid, com sete horas de estrada que me deixaram de rastos. Mas é sempre um consolo ir lá em trabalho. Também a mim me encanta trabalhar com espanhóis, e exactamente pelas mesmas razões que lista no seu post.
    Mas quem diria que o nosso mau governo iria ser castigado de forma tão clara nas urnas. Afinal sempre havia uma vontade de regeneração escondida. Felizmente que se enganou. Abraço.

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