Surpresas baldadas.

Já devia saber, claro. Mas continuo a espantar-me com o número de pessoas que, tendo acesso a informação de qualidade, continuam a olhar para as eleições americanas como se a vitória Hillary Clinton ou Donald Trump fossem qualitativamente semelhantes.

Entre as várias esquerdas existe até uma claque anti-Hillary bastante vocal. O fenómeno remete para o estertor da República de Weimar e a ascensão do nazismo: nessa altura muitos comunistas preferiam Hitler a entendimentos com os social-democratas. Tiveram o que desejavam.

Equiparar os defeitos dos candidatos — a cupidez de Clinton com o desprezo de Trump pelas regras do jogo democrático, por exemplo — é recusar uma hierarquia de valores fundamental e convidar a tragédia.

Em Portugal, que não vai por enquanto a votos, isto serve de aviso para o futuro.

42 pensamentos sobre “Surpresas baldadas.

  1. Eu por acaso gostava de perceber o que é isso das “regras do jogo democrático” quando o Iraque, a Líbia, a Síria, o Líbano, o Afeganistão, o Yemen, para não falar da Somália, estão no estado que estão. Já agora, as regras do jogo democrático permitem que a Fundação Clinton receba chorudos cheques de países tão respeitadores do jogo democrático como a Arábia Saudita ou o Qatar? Também gostava de perceber se os eleitores do Trump, como os que se perfilam para votar Marine Le Pen, ou os que votaram recentemente na extrema-direita na Alemanha, serão todos estúpidos (o que seria uma análise talvez sensata mas politicamente ineficaz). Quanto aos comunistas nos anos 30 (onde estão eles agora?), falar disso sem falar da execução sumária de Rosa Luxemburgo em 1919 a mando (confirmado) dos sociais-democratas ou da crise de 1929 que deixa a Alemanha literalmente de calças na mão e abre uma auto-estrada a Hitler é curto, mesmo para um post. De resto, é isto e assino por baixo (mas isto sou eu, que nem sou comunista por descrer em absoluto no paraíso na terra): https://medium.com/@mtracey/have-i-downplayed-the-horrors-of-trump-a-self-assessment-39cdffdef9f7#.i10k10ot5

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    1. 1. Por “regras do jogo democrático” entendo o sistema de normas fundamentais da democracia representativa, como o respeito pelos resultados eleitorais. Não as considera importantes? Eu considero. Nada disso se relaciona com o “Iraque, a Líbia, a Síria”, etc. Misturar tudo é uma boa maneira de não esclarecer nada, e precisamos muito de esclarecimento.
      2. As “regras do jogo democrático” não são os estatutos de uma fundação. Se a fundação Clinton cometeu ilegalidades, devem ser escrutinados, como é evidente. No entanto não a vejo denunciar as fraudes da fundação Trump, abundantemente noticiadas. Porquê?
      3. Não, os eleitores de Trump não são todos estúpidos. Aqui no blog já publiquei este post, que é uma boa análise, e muito empática, da New Yorker sobre o eleitorado de Trump: https://vidabreve.wordpress.com/2016/10/04/no-coracao-do-pais-de-trump/ Mas o facto de não serem todos estúpidos não lhes dá, nem a si, razão.
      4. Não conheço os pormenores da morte de Rosa Luxemburgo, mas falar na crise de 29 como se não tivesse havido uma enorme crise de 2008 é contraditório: sim, as crises geram extremismos. Sim, geraram em 29 como estão a gerar agora. Isso não é um bom motivo para prevenirmos os extremismos em vez de os alimentarmos castigando candidatos moderados como a Ana parece estar a fazer?
      5. O texto que cita em link é um ataque à “velha maneira de fazer política” e uma defesa dos populismos. Se assina por baixo, temos de discordar.

      Finalmente, é fascinante assistir a um fenómeno que não tinha visto in loco embora soubesse que existia: a transferência de alianças da extrema-esquerda para a extrema-direita sem passar pelo centro. Gostaria de não ver sinais desse fenómeno nos seus textos, e espero sinceramente que me poupe a essa desilusão. Qualquer Hillary Clinton é mil vezes preferível a qualquer Marine Le Pen ou Donald Trump.

      Precisamos de cabeça fria e rigor intelectual.

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      1. Luis, o que e’ mais assustador e’ ver, entre outros, jornalistas a redescobrir a roda, a pólvora e a dinamite. Vivemos num sistema oligarquico , que novidade! Que os sistemas eleitorais tendem a ser, por natureza, aristocráticos ja’ Aristoteles o escrevia no seu tratado sobre a política, mas isso e’ coisa de gregos xenófobos e sexistas, salvo o ligeiro problema de terem sido reavivados no inicio das democracias modernas com o propósito explicito de evitar essa coisa, temida pelas oligarquias entre todas as outras, que e’ a expressão da(s) vontade(s) popular(es). A representação democrática exige grande organização, propósito a prazo, muito dinheiro, e órgãos de informação que não estejam dependentes da oligarquia – sem isso não se arranjam candidatos capazes de representar os legítimos interesses da população . Ora pois, triste redescoberta. So que enquanto as oligarquias construíam o euro manco, os tratados europeus absconsos, e a revolução neoliberal prosseguia a velocidade cruzeiro, os jornalistas afiançavam que os modos clássicos de organização popular eram coisas do passado, os sindicatos dispensáveis, patati batata… Será uma coincidência serem os jornais, ou passado a ser, propriedade dos oligarcas? Quando os votos populares contrários aos desígnios da oligarquia europeia eram ignorados (Dinamarca, Franca, Holanda,….), e o eleitorado acusado de todos os males como xenofobia, nacionalismo, anti-europeismo, e passo, esses mesmo jornalistas veiculavam a mensagem dos Delors, e outros tecnocratas, em prol da desregulacao e da “modernização”, louvando a construção europeia a portas fechadas como a única possível e a única desejável.

        Agora que muitos começam vagamente a aperceber-se do belo sarilho a que nos levou o entusiasmo “modernizador” dos últimos quarenta anos, desatam a disparar em todos os sentidos. Um pouco de modéstia e de auto-critica não cairiam mal neste momento. A seguir, um pouco de cabeça fria e rigor intelectual, como escreve o Luis . A traição de Ebert e dos sociais-democratas não servem de consolação, ou de justificação, ao nazismo; que alias teve uma outra causa, não única, mas bem mais próxima, nas politicas austeritarias e deflacionistas de Bruning (1930-1933). Tiens! Por que razão os jornais não contam o que se passou durante o governo de Bruning, enquanto nos repetem a exaustão a hiper-inflacao da década anterior? Aqui estaria talvez uma nova descoberta: que a historia e’ um pouco mais complexa do que parece, e não se esgota numa dicotomia populismo vs “oligarquismo”.

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      2. 1. Se estamos a falar de respeito pelos resultados eleitorais, não vejo onde está a dúvida. Nem o perigo. O Tump vai fazer um golpe militar? Sejamos sérios. Já agora, subtrair a política externa americana da equação, quando as guerras, o terrorismo, os refugiados e as migrações são os desafios do momento só por puro diletantismo.
        2. Eu não espero nada do Trump nem sou obrigada a denunciar nada (nem voto nos EUA nem faço proselitismo). A Fundação Clinton veio à baila porque pretendendo ser um exemplo, e um exemplo em tudo contrário a Trump, fede até ao tutano.
        3. Olhar para o eleitorado de Trump como populaça é uma arrogância que não fica bem a ninguém
        4- Se chama a Clinton uma candidata moderada, teríamos no mínimo de chegar a um acordo sobre o sentido das palavras. O facto de chegarmos ao dia de hoje com a Clinton taco a taco (nas previsões) com Trump, dirá muito da péssima escolha dos Democratas americanos. Se um troglodita tipo Trump conseguir um resultado razoável (mesmo ganhando a Clinton), os próximos tempos não vão ser bonitos de se ver. (Qt. à Rosa Luxemburgo, é da História – e comprovado recentemente por historiadores credenciados – que foi mandada assassinar vilmente pelos sociais-democratas).
        E para acabar, Diz o Luís: Qualquer Hillary Clinton é mil vezes preferível a qualquer Marine Le Pen ou Donald Trump. – O problema das Hillarys Clintons deste mundo é que acabam sempre por acabar comidas pelos Trumps e nós com elas, como se viu nos anos 30, justamente. De facto, precisamos de cabeça fria e rigor intelectual.
        Nota: Se o texto que linkei é uma defesa dos populismos eu sou a Nossa Senhora de Fátima.

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        1. Terá agora vários anos para comprovar as suas teses. Não vou responder às tolices que aqui escreveu porque, esta manhã, senti uma repugnância por este assunto que não tentarei ultrapassar. Aliás, o blog acabou.

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          1. Caro Luís :

            Compreendo a sua decepção e a sua vontade de se zangar com o Mundo. Mas talvez contando um pouco do que se passou comigo eu o possa ajudar. Caímos todos, muitos mais do que uma vez, mas temos que nos levantar e sacudir o pó, to be ready to fight another day.
            Eu, que sou Britânico por opção e militante Trabalhista por dever cívico, escrevo um modestíssimo blogue, e que se medirmos o sucesso pelo numero de leitores, então tem tão pouco que se quem o lê deixasse o nome eu os saberia a todos de cor. Mas entretém-me, espero que seja agradável de seguir, e dá-me o prazer de ter algumas dezenas de amigos imaginários com quem posso estar em amena cavaqueira. A minha vida de militante actualmente, eu que já estou a norte dos setenta há um par de anos, é a de soldado raso: Bater às portas, distribuir panfletos à entrada do Metro e pouco mais. Posso dizer que não me pode desagradar mais: Está frequentemente muito frio, chove ainda com mais frequência, mas dá-me a ilusão de fazer alguma coisa para que quando deixar este mundo ele esteja um pouco melhor do que quando cá cheguei. Sou portanto, irremediavelmente, um velho tonto.
            Não é de admirar que tenha vivido com intensidade, talvez demasiada, as eleições de Maio de 2015. Embalados pelas sondagens, que davam um empate técnico com os Conservadores, todos sonhamos com uma vitória até que, pontualmente às dez da noite, a BBC anunciou não só que tínhamos perdido mas também que os Conservadores tinham conquistado a primeira maioria absoluta em mais de vinte anos.
            E durante meses, entre Maio de 2015 e Julho de 2016, fui incapaz de escrever uma só linha que fosse – uma panne mental de proporções devastadoras. Mas entretanto surgiu a tentativa de defenestrar Jeremy Corbyn pelo establishment do meu Partido, e aí voltei a escrever furiosamente, tentando dar conta aos meus parcos leitores do que se ia passando em terras de S.M.
            Seguiu-se o Brexit, e só quem veio da imigração e vive na Grã-Bretanha sabe o terrível choque que foi. Mas desta vez, se é verdade que balancei, não caí porém.
            Há muitos anos soube da história de um aristocrata Francês, Petainista ferrenho e seguidor de Maurras, que com a derrota da Alemanha mandou erguer no salão do seu belíssimo apartamento parisiense uma tenda de campanha dentro da qual passou a viver. De portadas cerradas não queria ouvir o mínimo eco do exterior, e um criado levava-lhe em silencio a comida que era deixada junto à tenda.
            Não me recordo como a história acabou, mas sei de ciência certa que o Luís não pode retirar-se para dentro da sua tenda, por muito imaginária que seja. Quem sabe se amanhã não haverá novas Bastilhas a tomar ? Terá que levantar-se para ser contado. E, mais uma vez, On les aura ! On les aura!

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            1. Caro manuel,’escrevi há horas um comentario que nao apareceu aqui. Gostei da sua historia, que até me comoveu um pouco. E recomendo um livro, I married with a comunist, do roth, que é beminteressante. Se nao omconhece vai gostar.

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  2. Eu acho o Trump o perfeito imbecil, uma caricatura de certo politico paroquial americano que ascendeu à escala global, um clássico instantâneo da ficção politica, mas não estou exatamente assustado com a sua eleição. Se a questão é cabeça fria e rigor intelectual, teria de fazer uma ponderação das vantagens e desvantagens da sua eleição para o mundo, incluindo naquilo que me possa afetar, e não estou seguro de que iria concluir que o prejuizo seria maior do que com a eleição da Clinton ou do que foi com outras crias do sistema, como os Bush. Muitos farão essa ponderação do outro lado, chegando a certas conclusões que podem não nos agradar e não são mais estúpidos por isso. Chego até a desconfiar que grande parte da questão é mais estética do que outra coisa, como se estivessemos a julgar a country versus o jazz.
    Mas então, parece que o sistema acomoda confortavelmente a cupidez, incluindo um certo mecanismo de teias e sistemas de transmissão de riqueza e influência, fundações, enriquecimentos pouco explicados, etc. Parece que é mais ou menos consensual, porque ontem ou no dia anterior, no clube de debates oficioso do bloco central, todos, desde o Daniel Oliveira ao Francisco Mendes da Silva, diziam mais ou menos o mesmo. Não é que não concorde, mas é uma deliciosa novidade. Porque entretanto, por aqui, o Socrates é um pária com um cordão sanitário, à esquerda e à direita e, note-se bem, não vem acusado, nem sequer pelo CM, de metade do que acusam a Clinton e o marido.
    É que na hierarquia de valores fundamentais, já que se fala nisso, e muito bem, eu coloco bem acima das trocas de favores entre Sócrates e o amigo, ou da polémica dos ghost writers, o respeito pelas regras fundamentais da constituição sobre presunção de inocência e um módico de respeito pelos princípios do processo criminal. Ttttttthats all, folks!

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    1. “note-se bem, não vem acusado, nem sequer pelo CM, de metade do que acusam a Clinton e o marido” – ora aí está um manifesto exagero. O Sócrates é acusado de meter ao bolso dinheiro das obras públicas, os Clinton de conversarem com pessoas em troca de doacções. Há uma pequena diferença, certo?

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      1. “conversarem com pessoas em troca de doacções”? Isso faz a minha vizinha quando pede bonecos de louça para a quermesse. No caso Clinton é mesmo a suspeita de empregar doadores no departamento de estado ou utilizar a máquina do estado para favorecer nações benfeitoras.(http://abcnews.go.com/Politics/clinton-donor-sensitive-intelligence-board/story?id=39710624; http://www.theatlantic.com/politics/archive/2015/04/more-money-more-problems-a-guide-to-hillary-clintons-cash-scandals/391299/)

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    2. pois e’, caramelo, mas a ponderação que nos agitam ao nariz e’: o desespero do Joe; o triste estado de outras nações, todas ricas em hidrocarbonetos (complexa questão que não abordam, nem que seja para tentar perceber por que razão o crescimento fulgurante do pós-guerra marca passo ha’ décadas, não vai voltar, acabou-se o petróleo abundante, barato e extraído em casa, naquele outro pais do ouro negro que foram os EUA, nem e’ bom que volte, insustentável face aos limites físicos do planeta ); e, por fim, a cereja em cima do bolo: a cupidez dos Clinton – face ao Trump, for God’s sake! O Groucho não faria melhor.

      Transição energética, mudanças climáticas: quem será mais capaz de introduzir nem que seja um pouquinho de racionalidade e empenhamento politico nesses temas? O Trump? Se formos por essa hipótese por que não o pai Natal?

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      1. Não sei, Miguel. A propósito disso da transição energética e mudanças climáticas e pitróil, o que pensarão os habitantes das cidadezinhas que viram a sua água contaminada pelo fracking?

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        1. Tambem nao sei, caramelo, talvez que it’s a plot concocted by the liberais, tudo menos we should start using less the damn pickup. O Trump apresentou uma solução para esse problema?

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          1. Não faço ideia. Mas acho que nisso ele deve querer manter a mesma dose de racionalidade dos seus antecessores ;). A solução era mesmo eleger o Pai Natal, que tem uma equipa com know how para pôr os carros a voar puxados por renas.

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  3. Embora a ideia de “qualidade da informação” me pareça a chave menos operativa para se pensar a representação política atual, acho que tem toda a razão na sua reflexão, e se me permite, não a destinaria unicamente à esquerda de extração Leninista, mas também a uma certa direita. Concordo que é aterrador que estejamos a assistir à repetição dos anos 30 e nada possamos fazer para o impedir.

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  4. O Trump não tem grande consistência ideológica e isso descansa-me um bocado. Diz o que os outros gostam de ouvir para ser eleito, que é o que define um populista do seu género, aquele que vence eleições com a mesma facilidade com que vende carros em segunda mão. Parece ter feito uma aposta consigo mesmo em como podia chegar a presidente dos states, como se mantivesse um desejo de criança. No fundo, não pertence a nenhum sistema e isso explica que tenha ganho tantos adeptos. Capitaliza muitas insatisfações que não pertencem a nenhum lado, que são meio “apátridas”, de gente que apenas se sente cansada da vida que tem e que normalmente nem votaria.
    Eu teria mais receio que fosse eleito um tipo como o Ted Cruz, o representante de um lado orgânico do partido republicano: a direita conservadora religiosa. O partido já tinha virado à direita, sem ajuda do Trump. Ainda o Trump fazia reality shows e participava em jantares com os Clinton, já o congresso americano de maioria republicana bloqueava qualquer acção progressista do Obama.
    É com o Ted Cruz e outros iguais a este que se podem identificar a Marine Le Pen, o Farage ou os novos líderes do Leste europeu. A diferença é que enquanto seria difícil ao Ted Cruz ser eleito na américa, os últimos podem e têm sido eleitos. Torna-se um bocado mais risível e impraticável na america alegar que a civilização se funda na raça e na vitória dos cruzados contra os infiéis. Esse peso, não têm eles, felizmente, ou, pelo menos, é desprezível. Tenho muito mais receio daquilo que agora já acontece na Europa, do que o que pode acontecer nos states. E não estamos a falar da “esquerda leninista” ou de outro género; quem dera que o problema fosse esse. Esqueçam o venerando Alan Krivine, o Zizek ou meia dúzia de arruaceiros de rua. Se pecam por alguma coisa é pela passividade.

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    1. “É com o Ted Cruz e outros iguais a este que se podem identificar a Marine Le Pen, o Farage ou os novos líderes do Leste europeu. ”

      Mas não é o caso. A Marine Le Pen foi das primeiras a apoiá-lo.

      Eo caso Zizek é interessante porque nos revela que não se pode contar muito com certas alianças.

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      1. Pois, é inegável que uma parte dele e uma parte dos seus apoiantes coincidem com os le pens do lado de cá. Mas, apesar de tudo, não é a mesma coisa. Estive hoje a ler uma espécie de questionário às estrelas que apoiam um e outro. Do lado do Trump, uma parte considerável acha que o homem vai gerir a América como se fosse um business, porque o homem é um builder. Muita gente comum pensa também assim. Acho que esse é mesmo o super-poder do homem. Não encontro um correspondente do lado de cá. Talvez o Berlusconi, esse outro grande empreendedor.

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        1. O curioso e’ que o que muita gente vai escrevendo por ai’ involuntariamente faz ganhar pontos ao Walter Lippmann. Se a Hillary fosse capaz de disfarçar um bocadinho melhor estariam prontos a achar que seria muito melhor presidente do que o Trump. Se os tempos estivessem para crescimento económico de vários pontos percentuais, então era de caras: Nos tempos em que a classe media compra casas com jardim, carros vistosos, e anda entusiasmada por um consumismo desabrido, não ha’ políticos cupidos ou corruptos.

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  5. Pronto, lá ganhou o homem. Não se vá, Luís Jorge, que vamos viver tempos interessantes que têm que ser comentados. Vivemos o fim do mundo várias vezes ao dia e ainda não é desta. Os neoliberais de todo o mundo deixaram de estar órfãos e foram adoptados finalmente por um presidente-empresário, que promete gerir a américa como se fosse a sua empresa, sem contemplação pelos mais fracos. Vão ter tudo: governo, congresso, supremo tribunal. A fórmula está em marcha. Estou convencido que isto era a última coisa que o Partido Republicano queria e os groupies neoliberais devem estar também com uma crise de ansiedade. A História não vai ser muito amável.
    Vou fazer blackout às notícias durante uns tempos, porque não iria suportar ver agora a cara do homem, ao contrário da Clinton. Pela mesma exata razão pela qual sempre preferi mil vezes ver e ouvir o Sócrates, a ver a cara do Passos, if you know what i mean.

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    1. caramelo, uma das coisas que aprendi recentemente foi que esta espécie de diálogo virtual – blogosfera, social media – é inútil, e não substitui qualquer trabalho cívico digno desse nome. Mas existe essa ilusão.

      Outra coisa que aprendi foi que o mundo está cheio de gente demasiado pura para não atacar uma centrista, mas que em compensação não é suficientemente decente para combater um fascista. Ou seja, fartei-me de uma boa parte das pessoas que me leram, e que li, durante anos.

      Quanto às nossas conversas entrecortadas foram sempre um verdadeiro prazer. Como tem o meu e-mail não lhe faltarão meios de me contactar, se for esse o seu desejo, e será sempre tão bem recebido quanto estiver ao meu alcance.

      E agora, vou por as leituras em dia. Tenho para aqui uns 15 Balzac empilhados e ainda só li três.

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      1. Tem toda a razão, Luis. Eu tinha, desde ha’ muito, a impressão de ser muito mais critico e céptico do que a maioria relativamente `a oligarquia. De repente sou confrontado com esta realidade extraordinária. Um surpreendente numero de pessoas, a pretexto de uma revolta bem compreensível contra a oligarquia, consideram que a eleição de um (proto?)fascista não e’ assim tão grave como isso, senão for mesmo melhor do que a da Hillary, ja’ que vai destabilizar o sistema, embora sejam incapazes de articular um argumento coerente e plausível que nos faca entender como e’ que isso vai melhorar (em vez de piorar, como parece probabilíssimo) o que quer que seja. Incluindo o Zizek, se bem que ele nunca tenha sido especialmente coerente. E’ curioso que ha’ um padrão recorrente naqueles que li: começam por dizer as piores coisas possíveis do caracter e da competência do Trump, para depois meterem isso tudo debaixo do tapete, e continuarem imperturbáveis a diatribe contra a Clinton. A noção mesmo de que isto possa ser um método promissor e’ digna de um piromano. Em Franca, so falta mesmo a direita apresentar o Sarkozy como candidato `a presidência. Ha’ um ano safamo-nos por um triz de apanhar com a Marion Marechal Le Pen na região PACA, mas os milagres não costumam repetir-se. Mas eu ja’ ouvi muita gente dizer que a Marine não e’ como o pai (va-se la’ então perceber por que razão foi para o mesmo partido), e a musica pode repetir-se.

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        1. Pois. Eu apanhei há tempos o namorado de um amigo da minha namorada, que vive em França, muito entreolhado quando lhe perguntei pelo “perigo” que era a Le Pen. Percebi tarde que o tipo era apoiante. Isto vindo de um gajo da comunidade LGBT faz ainda mais impressão.

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          1. Pois, deve ser por causa do Philippot… Mas também ha’ tipos de origem magrebina (!), ha’ portugueses, e sabe-se la’ quem mais. Estamos a entrar num época de grande volatilidade. As pessoas não percebem grande coisa do que se esta’ a passar, os meios de comunicação de massa ha’ muito que não fazem sequer parte do seu trabalho, e e’ essa a única fonte de informação para a esmagadora maioria da população. O resultado e’ a desorientação crescente, logo a começar nos seus aspectos éticos.

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      2. Percebo-o bem e nunca tive essa ilusão. É por isso que há muitos anos reduzi a minha participação na rede ao mínimo e hoje fiquei com vontade de desaparecer de vez, enjoado com os pequenos cínicos.
        Já agora, achava eu então que o mundo já estava tão afascistado, que mais um trump, menos um trump, não faria diferença. Continuo a achar que a America não produz fascistas de jeito, mas ando hoje deprimido e zangado, como devia ter previsto. Continuo a ter esperança que a sua eleição seja uma vacina, a inoculação do vírus da estupidez proto-fascista numa sociedade estruturalmente democrata como a americana, que agora engripou.
        Muito obrigado, Luís Jorge, o prazer foi meu e é esse o meu desejo. Balzac, siempre, hasta la vitoria final. Agora, em fade away, com um toque de snobismo, acabei um livro de um escritor grego, Antonis Samarakis, A Falha, To Lathos, um policial com antevisão do regime dos coronéis na Grécia, muito, muito bom, com elogio do Graham Greene.

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          1. Esqueci-me de dizer que não o encontra no mercado normal; a edição é de 1973 (a obra é de 1965). Talvez procurar na OLX ou outro site do género. É mesmo uma pequena obra-prima e “policial” nem é o rótulo mais adequado. O Simenon adorava-o. Só o comprei porque há muitos anos que açambarco tudo o que é coisa grega, música, livros etc. Se fosse eslovaco, tinha-me passado ao lado, infelizmente. Pronto, ó freguês, o peixinho é exótico mas leve-o que o dono da banca já ameaçou desmantelá-la.

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  6. “A designer diz estar “muito preocupada” com o sentido de voto daqueles que até agora apoiaram Bernie Sanders. “Muitas pessoas que eu conheço são pelo movimento Bernie or Bust”, ou seja, se não podem votar no senador do Vermont então não votam em nenhum outro candidato, o que, como se sabe, poderá ser prejudicial para a candidatura democrata. Apesar disso, Sarah acredita que, no último momento, irão ceder e votar em Hillary Clinton. Afinal, foi isso que Bernie Sanders lhes pediu e eles sabem “o quão importante é esta eleição”.” http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-11-08-So-votei-em-Hillary-porque-Bernie-Sanders-me-pediu
    Os apoiantes do Bernie Sanders ( não o próprio, honra lhe seja feita) não cederam e entenderam que entre o D. Trump e a H. Clinton deveria ser o diabo a escolher. Pois bem, o diabo fez a sua escolha…

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