Privilégios da Lusitânia.

Suponho que nem toda a gente dará 10 euros por um vinho, uns porque o consideram caro, outros porque sendo tão barato julgam que serve para temperar os refogados. Eu gosto de dar 10 euros por um vinho porque, se não o conhecer, me parece provável que seja de qualidade, e se o conhecer já sei que bom negócio faço quando o compro. Neste “price point”, como dizem os marqueteiros, é o que acontece quase sempre em Portugal.

Por muito que viva nunca hei-de entender os bebedores de cerveja ou de gin às refeições. Até já tive formação nas duas coisas por razões meio prazeirosas, meio profissionais. Mas é heresia na mesma.

Vejam isto, por exemplo:

6060531_1__1

Custa dez euros no Corte Inglês. Resulta de um projecto de vários enólogos que decidiram dar vida a castas que amavam. 90% do blend compõe-se de Viozinho. A casta tem qualidades evidentes, produz vinhos estruturados, de aromas complexos, mas infelizmente é sensível à podridão, às doenças e, o pior de tudo, muito pouco produtiva. Por isso resta em vinhas velhas, no Douro e em Trás-os-montes, e só é cultivada, hoje em dia, por amor.

As pessoas que fazem um vinho assim merecem uma estátua. Este acompanhou lindamente um espaguete com ameijoa da boa, alho e coentros, numa varanda da Avenida de Paris. Deus o abençoe.

29 pensamentos sobre “Privilégios da Lusitânia.

  1. Sobre bebidas para acompanhar, depende da comida. A cerveja é boa parceira de comidas com temperos mais puxados, picantes, caris, etc. O vinho nem tanto, por uma série de razões. Os russos dizem que o vodka acompanha bem o borscht. E a salada de alface. Eu só não percebo é como se encaixa o gin nas refeições, para além dos amendoins torrados. Isso sim, é uma moda e bem esquisita.

    Gostar

      1. É capaz. Eu faço uma massada de frango em refogado puxadinho que é uma catogria e só me vai bem com cerveja. É como a muamba ou a cachupa, de que gosto tanto e que não me vejo a acompanhar com cabernet. Tem que ser bebidas tipo bombeiro sapador. Também vou dizer uma coisa: não sou adepto desse tal espaguete, com coisas espalhadas pelo meio, queijo e coentros e ameijoas e outros berloques. Isso é o que vejo as mulheres magrinhas a comer nos shopings a acompanhar com coca-cola, em lojas com estampas da Toscana.

        Gostar

        1. Que horror, caramelo. Se algum dia uma spaguetti al vongole, ou lá como se escreve, se aproximar de um shopping center melhor será que o façam refém em nome da salvação da vida costeira.

          Dito isto, a muamba é um desafio, mas deve aguentar bem um branco encorpado. É a minha opinião de amador.

          Gostar

          1. Eu sei que devo estar a ser injusto, mas sou muito ignorante da cozinha italiana, que não seja a de shopping. Não gosto muito de espaguete só cozido em água, nem de pizzas e lasagnas. Descobri que a cozinha italiana é mais rica do que isso quando li um livro de um autor brasileiro, o Isaias Pessotti, Aqueles Cães Malditos de Arquelau, uma aventura divertida em Itália, com muito tempo passado à mesa. Gostava de experimentar a polenta, porque sempre gostei das nossas papas de milho.

            Gostar

            1. A cozinha italiana é bastante variada, mas claro que em Portugal só apanhamos a variações pizza-pasta (e só alguma) – e mau risotto de vez em quando. Eu adoro-a, a ponto de estar neste momento a verter um lágrima, cheio de saudades de Genova e Bolonha. Ai, ai. Porca miséria.

              Gostar

  2. Voçês falam de barriga cheia :
    Deviam viver num país onde os vinhos portugueses se tornaram uma raridade.Mas eu explico porquê:
    Uma garrafa de vinho paga um imposto fixo de £ 2.05 .Ora como a maioria dele à venda nos supermercados custa à volta de £5.00, fica para pagar tudo o resto, o tintol, a garrafa, a distribuição o transporte, etc , a módica quantia de £ 2.95. Conclusão: Sai mais barato do que a água mineral.
    Isto para os chamados “Vinhos do Novo Mundo”. Porém os bifes quando querem beber um vinho de classe ou impressionar o engate num restaurante da moda compra um que seja francês, largando 20 ou 30 libras e upa upa. No buraco entre os dois está o nosso.
    Eu defendo-me como posso: Venho de carro e o meu recorde está nas 17 caixas, não me perguntem como as meti. Dentro em breve lá me vou meter à estrada com o credo na boca não vá partir alguma mola.
    Portanto repito : Voçês falam de barriga cheia.

    Gostar

    1. Manuel, a boa notícia é que pode, perfeitamente, encomendar os seus vinhos online com entrega aí em Inglaterra. Aliás na GB 11% dos vinhos já são comprados online, por isso você nem será um percursor. O nosso vinho em Inglaterra é bem conhecido entre os apreciadores, mas não passou para o consumidor médio, por uma outra razão: tiragem. Exceptuando um punhado de produtores não há capacidade em Portugal para a dimensão das vossas cadeias. Portugal tem um eterno problema de escala, e ainda não ultrapassou a sua falta de jeito para valorizar nichos próprios.

      Gostar

  3. Depende, Luís. Uma francesinha pede cerveja; acompanhá-la com vinho é impensável. Mas não seria capaz de acompanhar uma refeição com gin (ou com um cappuccino, como esta gente).

    Gostar

            1. Carlos, a francesinha sempre me pareceu lasagna à moda do Porto, uma coisa enjoativa. Mas é muito comum essa de que é preciso procurar no sítio certo, quase locais secretos, o que me faz desconfiar da representatividade da coisa. Estive com a família o ano passado no Porto, uma semanita, sediados na freguesia do Bonfim, e não nos faltaram boas tripas e bom bacalhau. E parece que tudo o que se faz bem no Porto só me calha bem com vinho tinto, não com cerveja.

              Gostar

              1. Caramelo, lasagna à moda do Porto? Que Deus lhe perdoe, porque eu não sou capaz! 🙂
                Fora de brincadeiras, o segredo é o molho. Fazer sandes, com mais ou menos recheio, qualquer um faz. Pessoalmente, gosto das do Café Santiago, em frente ao Coliseu do Porto, e das do Café Nelma, na Rua do Paraíso.
                Também prefiro vinho a cerveja, mas não com uma francesinha.

                Gostar

                1. Está bem, Carlos, quando voltar ao Porto já sei onde comer uma lasa… uma mademóisele. A propósito, já viram o Une Village Française, uma série francesa que passa no canal 2? É ótima.

                  Gostar

                  1. Já me falaram nisso. Aqui no Alentejo não precisamos de aldeias francesas, gostamos mais de chouriços e queijos da nossa terra com migas e carne de alguidar e vinhos de Estremoz. Os franceses só gostam de pratos vazios com duas ervilhas e colaboraram com o Hitler.

                    Gostar

                    1. Esqueci-me que está em Londres, Carlos. Mas isso de estar numa cidade tão nevoenta e com recolher obrigatório às dez da noite e não ver televisão, é altamente suspeito. O último tipo que não via televisão em Londres foi o Marx, porque estava ocupado a preparar as maldades do mundo, desde o nazismo e o comunismo até à música do Cliff Richards. E os pratos com duas ervilhas.

                      Gostar

                    2. Caramelo, o nevoeiro de Londres é mito. Quanto a Marx, perdoo-lhe quase tudo, mas não a música do Cliff Richards. Olhe, o castigo que lhe desejo é que Deus o tenha perdoado.

                      Gostar

Deixe um comentário