Pompas fúnebres.

Os jornais de ontem revelaram pormenores sobre o fecho do Banif, caído numa longa agonia que se arrastará até ao fim do ano.

Sublinho que o banco alterou a identidade gráfica há pouco tempo e tem uma campanha no ar. Quem for ao site será convidado a partilhar citações inspiradoras de Martin Luther King, Henry Ford, John Lennon (“Faça o seu próprio sonho”), Albert Einstein e, enfim, Fernando Pessoa, porque em todo o lado é preciso um português.

Uma página descreve com detalhe o “novo universo Banif” e a “constelação de marcas” que lhe pertencem. Outra página (vazia) solicita que partilhemos a nossa “força de acreditar” através de uma mensagem no local. O formulário da mensagem não funciona. Tudo é cosmético e desamparado.

As empresas do sector financeiro têm obedecido uma regra de ouro em Portugal: ninguém se despede sem mentir. Todas as derrotas são antecedidas por uma campanha milionária que transborda de fé no futuro. Como profissional de comunicação, não gosto disso. Não tenho vontade de convencer famílias a colocarem as poupanças num banco para ficarem sem elas.

Há maneiras melhores de usar capitais públicos.

14 pensamentos sobre “Pompas fúnebres.

  1. Não vejo qualquer problema de “ética & vontade” quando sustentamos o mais caro funcionário público no BP. Já quanto a euforias sem sustentação real, se me permite, recomendo a leitura de hoje feitas pelo nosso nobel de estimação cá na parvónia. Eu sei que não tem o charme do NYT mas, enfim, a crise ainda não acabou.

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      1. De ética não. De certa forma a banca é um roubo legalizado pelas autoridades e não conheço solução para o problema, salvo, evidentemente, que a regulação funcione.

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  2. Caríssimo Luís, que saudades sinto dessa impagável socióloga-blogueira loura (de profissão jornalista, no pré-falido “Diário Económico”) Maria Teixeira Alves, entretanto tornada medianamente famosa por ter obrado (mais um) opúsculo sobre a queda do BES/GES, com quem, nos idos do saudoso «Declínio e Queda», mantive polémica aguda na respectiva caixa de comentários a propósito dos que ela denominara encomiasticamente «pequenos génios discretos», os tais que então intervencionaram o BANIF com mais de 1,2 mil milhões de euritos do nosso magro Erário (público) e agora ficaram desempregados por causa do Tó Tosta…

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  3. Conheci um gajo que antes de abrir falência comprou um Mercedes topo de gama (mais de 100.000 de carro). Foi a forma que arranjou de ganhar algum tempo uma vez que os credores, quando lhe viam o carro, pensavam que ele estava a viver momentos de prosperidade.

    De uma maneira assim mais simples ou de uma maneira bancária um nadinha-mais sofisticada, somos de uma parolice que mete dó.

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    1. Também conheci um assim. Com o pormenor divertido de esse dinheiro ser uma quantia que tinha sido reservada à indemnização de uma ex-funcionária despedida sem justa causa pela direcção anterior. Ainda assim o novo director-geral comprou o carro, tendo sido avisado para que servia a verba em questão, e o resultado não foi nada bonito de se ver.

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    2. Consta que essa prática era comum entre os empresários de Paços de Ferreira, que chegou a ter o número mais alto de Ferraris por metro quadrado em toda a Europa.

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  4. Realmente o Luis acerta em cheio quando fala em “pompas funebres”:

    Esta publicidade digital feita pouco antes do banco exalar o ultimo suspiro é o equivalente aos mementos mori da antiguidade.”Lembra-te que vais morrer” anuncia lúgrebe o moribundo. É visitar a Capela dos Ossos em Evora ou ver o mais famoso dos mementos mori, o que foi encontrado em Pompeia, em http://ancientrome.ru/art/artworken/img.htm?id=1755.
    Resta-nos fazer uma breve prece pela sua alma, pelos postos de trabalho perdidos e pelo dinheiro dos depositantes.

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