Carry on.

Vamos precisar de toda a nossa inteligência para os combates que travaremos. São combates simultâneos: contra os radicais islâmicos, em primeiro lugar, e contra o triunfo da extrema-direita na Europa, em segundo. Hierarquizo-os para que não pensem que os considero igualmente importantes.

Nesta altura fazem-se discursos que proclamam as virtudes de “viver normalmente”. São inúteis. A vida normal acaba quando as guerras começam.

28 pensamentos sobre “Carry on.

      1. Entao, peco desculpa pela repeticao.

        Uma vez que vivo e trabalho actualmente num pais muçulmano, de sharia sunita, e tendo outros colegas na mesma situação, deixo-lhe aqui a reacção estatal ao atentado: – tímida, curta e, inicialmente, ignorando propositadamente o que acontecera. A razão é muito simples: – evitar que se debata o Islão. Para isso, uma linha de condolências e a costumeira “esses tipos não são muçulmanos”. Assunto arrumado. Ora, isto vindo de sultões e xeques que bebem, drogam-se e fodem a tripa forra, e que levariam uma tremenda abada de qualquer clérigo do ISIS em conhecimento de escrituras sagradas. Colegas trabalhando noutros países de lei sunita descreve exactamente o mesmo encolher de ombros e virar de costas dos lideres e respectivas comunidades. Estamos todos fartos de ouvir a lenga-lenga “esses tipos não são muçulmanos; o Islão é uma religião de paz”. Pelo contrario: os tipos do ISIS são hiper-muculmanos e o nenhuma religião é intrinsecamente pacifica, ou violência. Internamente, atentados deste tipo são mana para o status quo, passando as sevícias regulamentares, como vergastadas em mulheres adulteras e enforcamento de homossexuais, como praticas piedosas em comparação com os apocalípticos da Síria e Iraque.

        Estas questões terão de ser resolvidas dentro do Islao. Intervenções militares, represálias, pressão sobre migrantes, etc. apenas contribuirão para a manutenção de um Islão medieval, fanático, vitimista. Mas numa economia tão dependente de petróleo e gás, podemos esperar sentadinhos…

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        1. Tem toda a razão, mas não acredito na capacidade de auto-regeneração dos países islâmicos sem pressão exterior. Não sei que tipo de pressão (económica, diplomática, militar, secreta ou não, uma mistura variada), mas vamos ter de a fazer.

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          1. Tem de haver pressão diplomática e económica sobre os países do Golfo e da Turquia. Erdogan comporta-se com uma duplicidade asquerosa, permitindo ao ISIS recrutar e treinar na Turquia quase as claras e demonstrando tolerância para com os clérigos afins ao ISIS no seu país. O ISIS permite-lhe ter os curdos em cheque e ter um poder de negociação enorme com russos e americanos.

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              1. De acordo com os Curdos na Síria, estes têm sofrido frequentes ataques concertados entre força aérea turca e o ISIS, que também recebe muito apoio logístico vindo de território turco, à descarada. Com uma oportunidade destas para massacrar os Curdos por interposto exército, o Erdogan está-se bem a cagar para os 2 milhões de refugiados. E sempre dão jeito à mesa das negociações com homólogos da UE…

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  1. Estou a tentar responder a uma determinada coisa:
    O que é que queremos proteger dos terroristas do ISIS? Isto anda confuso. Será a civilização cristã, como alguns dizem, e por isso louvam o Orban, que seria o seu guardião, ou, pelo contrário, os nossos valores universais humanistas que foram conquistados contra o que representa o Orban, quando essas lutas eram internas, começando com o iluminismo, quando já estava passada há muito a reconquista do Carlos Martel? Não é a pátria do Voltaire, o anticristo, que foi atacada? Porque não atacaram nenhuma igreja, nem gente em oração, mas sim manifestações profanas de convívio, aquilo que faz de Paris… Paris, tão cobiçada, como um ódio de estimação, pelos terroristas. Foi aquela França tolerante, que surgiu da modernidade, que permite todas as liberdades, a religiosa e a profana, em convívio pacífico, incluindo a liberdade que tomou o Charlie.
    Se passamos a adorar o Orban, é isso que se perde. Porque só uma diferença de grau distingue o Orban dos xeques do Ísis e a nossa civilização não foi feita de cálculos de graduação, mas sim de cálculos de qualidade; de diferenças essenciais entre coisas de diferente qualidade. A diferença é que uns se combatem com a caneta e a voz e outros com armas de fogo (o que também justifica a hierarquização, que acho correcta, feita pelo Luis Jorge). Não me vejo a refugiar-me atrás do Orban para me defender do Ísis, do mesmo modo que não me vejo a juntar-me a uma manifestação de skins, aqueles que muitos agora vêm como a milícia armada da civilização, quando é a milícia armada de uma outra coisa completamente diferente, que já expulsámos há meio século atrás e que agora está outra vez à esquina.
    Durante algum tempo, ainda que curto, devíamos voltar a invocar la grandeur de certos princípios, como quem interrompe uma ópera para passar a Marseillese, essa sim, uma oração que, neste momento, comove e mobiliza como nenhuma outra.
    À propos, os valores que professamos, porque são universais, não nos deviam motivar agora para dar um pouco de atenção aos atentados do ISIS em Beirute, por exemplo? Porque dar atenção quase exclusiva às imagens de Paris, esquecendo o resto do mundo que o ISIS ataca, é também fechar um pouco a porta aos valores que prezamos. Andamos ciclicamente, ao longo de séculos, ora a ensinar aos outros os nossos valores, ora a ignorar os outros. Pelo menos, pelo menos, porque estamos a receber muita gente, que até queremos que sejam cidadãos europeus, que têm ainda o coração e a mente nos que sofrem lá longe. Não se trata de assimir culpa nenhuma, apenas de dar atenção.

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    1. A sua pergunta do último parágrafo tem-me apoquentado. Se devemos dar atenção a Beirute, etc. Sim, claro que devemos. Mas,parece-me, trata-se de uma resposta racional.

      Enquanto a “atenção” (à falta de melhor termo) que damos a Paris é uma resposta emocional, mais profunda, mais visceral.

      Não julgo que haja mal nisso. Por um lado, a empatia diminui com a distância – isto deve ser humano, e não creio que haja muito a fazer, excepto o tal esforço racional.

      Em segundo lugar, Paris é a cidade em que, e falo por mim, passei inúmeros dias de aniversário, a cidade a que ia todos os anos, uma cidade que é para mim das coisas mais preciosas da terra.

      E aqui há também um sentimento estético, que está presente perante a destruição das ruínas de Palmira (está a ver, como a empatia atravessa continentes quando entra a estética?). Destruir Paris é destruir a beleza do mundo, um pouco da esperança que ainda há em nós.

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      1. Eu partilho isso, não há mal nenhum, e por isso a minha invocação de Beirute é quase uma nota tímida, de rodapé, um esforço de empatia que se podia estender às dezenas de pessoas que morrem por dia, noutros locais para além de beirute, vítimas do Isis.
        É essa mesma dimensão emocional, profunda e visceral que me faz chorar mais a morte de alguém próximo do que a morte de 200 parisientes ou a queda da Torre Eiffel. Ou que me faria chorar mais a queda da torre do que a queda do parlamento inglês, se quisermos agora ir à dimensão estética e cultural, porque a minha ligação a tudo o que é francês é maior do que ao mundo anglo-saxónico, incluindo a lingua. Na véspera mesmo tinha comprado uma coletânea de quatro cd de música francesa, les femees de la chanson française, que estava a uma pechincha na FNAC, se calhar porque ninguém lhe pegava.

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        1. Mas agora vão pegar. Graças aos terroristas árabes, o Francês será de novo a língua franca da Europa, incluíndo a Rússia. Por falar nisso, estou a descobrir o último Nobel dos gajos com grande prazer.

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  2. Estou de acordo convosco, caramelo e Luis. Mas acrescento: Se o problema fosse apenas de termos terroristas contra nos, a solucao era relativamente simples. Mas tomando, por exemplo, atencao ao que diz o juiz frances, existe uma importante parte de ‘nos’ que alimenta o monstro. Essa parte nao e’ marginal, esta’ no centro da economia mundial. Desse modo, o terrorismo actual e’ uma questao de geopolitica. Eu diria que, por muito horriveis que os ataques terroristas na Europa ou no Proximo Oriente sejam, e sao!, eles nao sao o fulcro do problema. Sao, isso sim, um dos seus mais horriveis sintomas.

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    1. Bom, um médico começa por atacar os sintomas (a febre, vá), só depois as causas (o vírus) e só por fim a pandemia, que há-de ser matéria para a Organização Mundial de Saúde. Se vamos ficar a discutir as causas, a coisa logo enviesa para os males do capitalismo e ainda havemos de dizer que a culpa de crucificarem pessoas e chacinarem crianças é só nossa. Ou seja: “nós merecemos”. Mas não é, pois não? Nem “merecemos”, certo?

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      1. Ninguem merece uma coisa daquelas, caramba! Ainda e’ preciso escrever isso?!… Eu acho que o problema e’ muito mais geral do que os males capitalismo: a URSS andou no Afeganistao em nome do capitalismo? Por exemplo. Por isso, nao me parece que a analise das causas nao leva de maneira alguma a “nos merecemos”, nem a “culpa e’ do capitalismo”.

        Eu nao sou especialista, por isso invoco um especialista: o juiz frances. O que fazer? Actuar a todos os niveis. Usando a sua metafora, se um tipo tem uma infeccao bacteriana o medico receita simultaneamente uma aspirina para baixar a febre, e um anti-biotico para acabar com as bacterias. Isto e’ simples de resolver, tramado e’ se os virus se alimentarem das nossas funcoes vitais. E’ isso que eu temo.

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        1. Compreendo. É que estive há pouco a ver um filme com o Chomsky e fiquei assustado com tanta autoflagelação judaico-cristã. Mas sim, e gostava de perceber melhor o que disse o Putin sobre os 40 países que financiam o IA. Embora seja o Putin, da boca destas pessoas saem às vezes coisas interessantes.

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