Vamos, então, dar voz aos brancos salazaristas.

Não espero que os meus posts sejam bem interpretados por todos os leitores, pois conheço o flagelo da iliteracia que grassa na nossa direita.

Nem me surpreende que os saudosistas do império ou a fronda liberal de caceteiros e escriturários psicóticos  dirijam contra mim um fel em que há muito mais cálculo do que indignação.

(Sim, meus lindos, eu sei quando tentam intimidar-me).

Dito isto, aborrece-me verificar que depois de recorrer com finíssima ironia à expressão “pretinho salazarista”, para identificar fenómenos tão científicos como a “síndrome de Estocolmo”, logo fui alvo de insultos soezes no blog Estado Sentido em que um tal Melro dos Santos me apodou de  “porco racista”.

E isto chateia-me por duas razões.

Chateia-me, em primeiro lugar, porque a expressão não é minha. Ela foi criada por Henrique Raposo para designar Barack Obama a propósito de um assunto que não vem agora ao caso.

(Não vos tinha dito? Desculpem, esqueci-me, foi sem querer.)

E chateia-me, em segundo lugar, porque essa expressão do Henrique Raposo foi elogiada no mesmo Estado Sentido por uma prosa encomiástica que aqui exibo à posteridade, não vá desaparecer esta noite:

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Ou seja, as mesmas duas palavras que no Henrique são sintoma de distanciamento “irónico” e de “alguma mestria”, no meu caso servem para designar um “porco racista”  que viceja à custa da “impunidade do burgo”.

Mas, ao contrário do Henrique, eu não escrevo para o Expresso. Estamos portanto conversados quanto à impunidade.

E assim, resta-me solicitar à Helena Matos, aos comediantes do Estado Sentido, ao José Meireles Graça e a um punhado de nazis que prefiro não trazer para este post* que me concedam a mesma tolerância que reservam para o Henrique Raposo.

Isto é, que me considerem um tipo “corajoso”, “estimulante e polémico”,  cheio de “talento” e “mestria”, e imune à tentação “esquerdista” do “politicamente correcto”.

Porquanto, sejamos francos: se eu fosse de direita, era isso que os meus amigos fariam.

Ah, e tomem os medicamentos.

* Mas trago o António Araújo, que chegou tarde à conversa com uma indignação moral armada a trouxe-mouxe (e sabemos bem de onde veio).

37 pensamentos sobre “Vamos, então, dar voz aos brancos salazaristas.

  1. Se calhar na classificação dominante actual eu até sou de direita pois penso que se devem respeitar os compromissos assumidos, pagar as dívidas e essas merdas todas.

    O facto de ser a favor da liberalização das drogas leves e de pensar que a ninguém diz respeito o que dois adultos fazem com livre consentimento no seu quarto talvez me colocasse à esquerda. Mas a minha iliteracia coloca-me indubitavelmente à direita. Mas isso não interessa…

    O que interessa é que te quero dizer que, embora não concordando com a tua teoria da aplicação do Síndroma de Estocolmo a este caso, classificar o teu post de racista, é uma canalhice.

    É ser parvo ou, ainda pior eticamente, passar-se por parvo. E face a esses tipos o que te aconselho é que cagues de alto e não dês demasiada confiança seguindo o sábio conselho do Bernard Shaw “Never wrestle with pigs. You both get dirty and the pig likes it”.

    Um abraço,

    MAB

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  2. “porco racista” o Luís?!!! Isso merece lá um post…
    A não ser para expor o ridiculo de dois pesos e duas medidas.
    “com alguma ironia – e mestria, diga-se de passagem”.
    LOL

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  3. Em Portugal é tudo numa lógica de clubes, do futebol à política, com perdas evidentes para a qualidade da segunda…

    Maturidade e racionalidade precisa-se, podemos tirar o pessoal da província, eu venho de lá por isso posso falar (faço o disclaimer, como no research da banca de investimento, para algum interprete mal intencionado, que possa achar, do alto do seu saber de experiência feito, que, se eu não sou de lá ergo, não posso falar…), mas não lhes tiramos o provincianismo…

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      1. E você tinha evitado esta trabuzana toda se em vez de plagiar o pretinho da raposal criatura tem intitulado o post de «Uma Margaret Hilda Roberts em potência.»

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  4. Confesse, uma boa briga destas acaba por ser divertido. Fui seguindo os links (a porta da loja é inerranável), e num só post meter tanta gente ao ridículo é obra.

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      1. Tem noção que vai começar a ser um “alvo” para os nossos arautos da moralidade e ordem pública? Eles andam um bocado para o raivosos.

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  5. Bolas Luís! Você foi longe demais! Não bastava pô-los à paisana, ainda tinha que lhes esfregar as trombas com o Raposo… A sua inclemência não tem limites. Assim nunca vai ser convidado para articular no Observador, como o Mithá. Tá?

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      1. Talvez não. Lá o salazaristas é o menos, que esta gente não se prende com minudências, mas o Gabriel Mithá é capaz de desagravar os sócios por você os tratar de brancos.

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      2. Podem fingir que não leram, mas um dos comentários à posta do Malomil sobre o post “polémico” tem o link para o presente post. Se não leram, foi porque não quiseram, tanto mais que quem perde tempo com a sexualidade das onomatopeias de José Rodrigues dos Santos http://malomil.blogspot.pt/search?q=rodrigues+dos+santos tem, se se quer arrogar deter sentido crítico e do próprio ridículo, ler a presente exegese 😉

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  6. Em tempo: parece que já estou a ver a lição desagravante “Branqueza? Tenham decência, nem sabem do que estão a falar”

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  7. Sei proprio un ragazzo fortunato, Luis. Ir a Roma e irritar fascistas ao fim de semana. Que mais se pode pedir? Ah, la dolce vita.

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  8. O consultor de Sua Anibalidade http://expresso.sapo.pt/as-livrarias-estao-cheias-de-lixo-sobre-salazar=f745113 não gostou do trouxe-mouxe (vidde caixa de comentários) http://malomil.blogspot.pt/2015/02/do-debate-de-ideias-em-portugal.html .

    Cada um a estética a quem tem direito, dado que não sou iconoclasta acho que o consultor está um pouco fora de pé, como demonstra a ausência de resposta a um comentador informado (como quem, digo já, não tenho nada a ver).

    E escrevo este comentário com um único objectivo, quando achamos que temos razão e não violamos valores importantes da condição humana, temos de dar troco. Por isso, sigo com gosto o blog do Luís, não faço encómios para parecer bem, pois representa um espaço livre contra a corrente e não “corporativo”, que não está preso a partidos ou agendas. Estou farto de “povos livres” ou “pravdas” de pacotilha ou beira de estrada como se quiser.

    Estou-me olimpicamente lixando para o politicamente correcto e para virgens ofendidas https://twitter.com/jcaetanodias/status/569151476783833088

    As minhas desculpas pelo desabafo…

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