Em frente, parolos e imbecis.

Neste plano, o governo grego não pretende mais do que o fim da insistência num absurdo: a imposição ao longo das próximas décadas de superávites primários constantes num país com uma economia deprimida e uma sociedade devastada. Uso o termo devastada com propriedade: trata-se de um país em que, entre 2008 e 2013, a percentagem da população em situação de privação material grave aumentou de 11,2% para 20,3% (em Portugal também aumentou, mas de 9,7% para 10,9%) e em que a austeridade deixou um milhão de pessoas sem acesso a cuidados de saúde, fazendo disparar a taxa de mortalidade infantil. É disto que falamos quando falamos da Grécia, mesmo que muitos não o saibam ou não o queiram saber.

Mas não é no plano macroeconómico que as propostas do Syriza constituem uma ameaça para as elites europeias. É que a dívida é um instrumento e não um fim. Aquilo que de mais central está em causa não é a dívida e o seu reembolso, mas a sua utilização como instrumento de dominação. O que não pode ser posto em causa do ponto de vista das elites não é o montante da dívida ou o seu calendário de pagamento: a esse nível, como se tem visto nos últimos dias, pode sempre haver cedências. O que não pode ser posto em causa, em contrapartida, são os eixos centrais da dominação: a compressão dos salários e pensões, as “reformas estruturais” no mercado de trabalho, o esvaziamento do Estado social, as privatizações.

Sucede, porém, que é precisamente isso que o novo governo grego ameaça pôr em causa. E é precisamente por isso que, pela Europa fora como em Portugal, a direita e os seus porta-vozes – os intelectuais públicos dos grupos dominantes – não suportam o Syriza e o que ele representa, e têm reagido à sua subida ao poder na Grécia com o choque e atordoamento com que se faz um luto ou reage a uma tragédia.

O syriza e o luto da direita.

 

14 pensamentos sobre “Em frente, parolos e imbecis.

  1. Gostava muito de ver os defensores da lógica moralista e castigadora – sobretudo de direita, mas não só – afirmarem sem subterfúgios o que desejam. Ou seja, que consideram eticamente aceitável condenar milhões de seres humanos, crianças e velhos incluídos, à mais profunda miséria, à ausência de cuidados de saúde, ao suicídio e inanição, porque “a Grécia merece”. Mesmo admitindo a raquítica lógica de culpabilidade colectiva do povo Grego, gostava que se deixassem de merdas e admitissem que os gregos merecem morrer à fome, como faria qualquer labrego ensebado gritando do fundo dum tasco, ao ver José Rodrigues dos Santos na TV falando da preguiça helénica.

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    1. não pá, é mais estilo movimento milenarista!

      os parolos da direita acham que isto agora tem que ser assim mas depois, quando passar, vamos viver num reino divino de paz, progresso e riqueza para todos onde cabe grego, português, espanhol, enfim, onde cabem todos os que queiram adorar o messias que entretanto vai descer à terra.

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      1. Mas esse não escreve em inglês, logo os “estrangeiros” não percebem…

        Mais a sério, o raio do mandato tem custado a passar e espero, em nome da igualdade, que todos os justiceiros pés-descalço, de dentro e fora do Correio da Manha, lhe dediquem igual atenção, tempo de investigação e carinho como ao ex-PM Sócrates…

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          1. Mantendo o elevado nível a que nos habituaram os media, PGR e MP, deixá-lo-ão passear de braço dado, na Avenida Álvares Cabral, com o amigo Oliveira e Costa, que, nos finais de tarde, calma e descontraidamente por lá se passeia, para desentorpecer as pernas presumo eu…

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