Assinatura.

Fui jantar ao “Assinatura” do Henrique Mouro. Um menu de degustação inteligente, criativo sem espalhafato, que adapta a gastronomia portuguesa à alta cozinha em combinações arriscadas porque talvez estejam no limite do que o público habitual destes locais considera de bom gosto. O porco preto com caracóis, por exemplo. Ou a sardinha em xarém de amêijoas com tomate confitado. (Imaginam uma dondoca da Lapa a propalar “a sardinha do Henrique”? Pois).

A sala pareceu-me espartana, mais adequada a almoços de negócios do que a jantares românticos. O serviço, muito profissional, só pecou por culpa da gerência quando trouxe à mesa o nefasto inquérito com que as empresas modernas tentam sondar a opinião de quem as usa. Nos mercados do luxo isto é um erro de palmatória, pois a função do luxo é esmagar os fregueses com uma experiência inesquecível e não perguntar-lhes o que pensam antes de o pagarem.

A cozinha de Henrique Mouro é séria, os riscos que corre são meritórios porque revelam um certo desprezo pela coquetterie (em contraste com as vedetas do demi-monde, como o enjoativo Olivier). Mas nem só a virtude nos alimenta, e o seu restaurante parece ter esquecido que existe para dar prazer.

2 pensamentos sobre “Assinatura.

  1. Não é adequado a jantares românticos? Eu estive a ver fotografias do restaurante e aquilo tem uns cadeirões vermelhos capazes de acender a chama da paixão. Em grupo. Aquele mesame coladinho é propício a roçarem-se homens de negócios e mordiscarem-se nas orelhas e saírem dali para uma sauna. Mas aquelas mesas no meio fazem-me lembrar o jogo do calduço da minha infância. É assustador imaginar todos a levantarem-se das bordas para me darem calduços no centro. Não me apanham é a mim ali. Prometo todos os dias a mim mesmo descobrir o que significa confitado e comer coisas confitadas e ainda não é desta, Vou lá quando servirem senhora da lapa deitada nua em cima de uma mesa, coberta de sushi e fruta tropical, à homem de negócios japonês.

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