Até ao ano passado comprava lampreias de ovos na Pastelaria Suíça antes do Natal. A última vinha mergulhada na calda de açúcar que agora se usa para aumentar o peso (e o preço) das encomendas. Nunca mais lá pus os pés.
A pouco e pouco a decadência das casas de comércio tradicionais alcança também o bolo-rei. Na Confeitaria Nacional, a mais insigne entre quem não frequenta a Versailles ou a Garrett, provei hoje uma fatia que me pareceu adequada ao gosto dos novos tempos: quase nenhum sinal de frutas, massa pouco húmida, um resto de aroma a porto que talvez custe o emprego ao pasteleiro e em breve desaparecerá.
Este bolo-rei light, cada vez mais semelhante ao sucedâneo bolo-raínha — uma espécie de alimento genérico para criaturas sem palato — nada tem a ver com a minha memória do bolo-rei. Recordo a alegria com que encontrava a prenda — uma medalhinha em papel manteiga — e a desilusão com que mordia a fava nessa assembleia de quinze ou vinte pessoas hoje dispersas.
Com o passar dos anos tornamo-nos conservadores, não por razões filosóficas mas porque o progresso nos dói e já não nos traz boas notícias. Eu só queria a minha fruta, a minha prenda e a minha lampreia tal como eram quando eu era criança e o tempo ainda não existia. Mas sei que é pedir muito.
E eu não me esquecia desse detalhe: “Por que é que és tu a trazer o bolo?” perguntavam-me a míude. Espertas! Dizia de mim para comigo, se bem o pensava, melhor dizia “O que vocês não querem é que eu me lembre, no próximo ano, a quem calhou a fava.” Já lá vai o tempo…
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lol.
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O da Nacional é de facto uma desilusão. E mesmo o seu bolo-rei de outros tempos sempre parece ter sido mais nome do que substância, pelo que ouço de gente mais velha.
Se puder experimente um dia o da Jamba, da Portela. É a referência lá de casa. Se algum dia o provar gostaria de saber aqui no blogue o que achou.
http://bit.ly/uNT5ik
Abraço,
J.
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Bem, daqui para a Portela só por uma boa lampreia, mas obrigado.
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Luis, se não conduz, sempre tem o 22 e o 83. Este último que pára mesmo no Saldanha, ali tão perto da Versailles. 😉
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Um quarto de hora a pé. Mas obrigado pela dica.
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“It is an injustice, it is.”
“e o tempo ainda não existia”. “Com o passar dos anos tornamo-nos conservadores,” é a idade. Não envelheça. Como diz um amigo meu morrer pode ser uma coisa boa, envelhecer nunca é.
O progresso nem sempre é para bem, e agora cada vez menos mas qdo o bolo-rei tinha fruta não havia o… “vida breve”.
Só para lhe fazer inveja aqui no Norte ele é ainda igual a qdo era cortado pela minha mãe.
Só que já não é cortado pela minha mãe. É o sabor ligado aos afectos que nos faz falta, não é a fruta.
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No norte, no norte. No Norte nada muda, está visto.
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Benfiquista. Eu não sou portista.
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Tenho que ser mais cosmopolita quando escrever aqui.
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E chique.
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Recomendo o Bolo Rei da Pastelaria Machado nas Caldas da Rainha. Já o provei este ano e está muito bom, como sempre! 🙂
(a lampreia de ovos não sei, não sou particularmente apreciadora, mas também se vende por lá!)
Quanto ao progresso que nos dói e ausente de boas notícias… pois quanto a isso, paciência ou impaciência…
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Se enviarem por correio, why not.
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Não sou grande apreciador, mas tanto quanto sei o do Sequeira não é mau.
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Isso de escrever assim “o do Sequeira” é capaz de merecer algum desenvolvimento.
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Presumi que quem vai à Versasilles sabe onde é o Sequeira. My bad 🙂 É a pastelaria de esquina a seguir ao Colégio Académico – para quem sair da Versailles em direcção ao Saldanha.
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Tem razão, já sei qual é. Obrigado.
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Eu recomendar-lhe-ia o da Petúlia, aqui no Porto, mas se não vai à Portela por causa de um bolo-rei, também não virá ao Porto.
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Eu não conduzo. E temo que o alfa pendular não dure até ao Natal.
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Sim, restar-nos-á o inter-regional, para podermos desfrutar com tempo da bucólica paisagem portuguesa. Pobrezinhos e cada vez mais atrasados — no que deste Governo depender, assim seremos nós.
(pensei em escrever «honrados», mas acho que a fase moralista já lhes passou — pelo menos, já não se dão ao trabalho de disfarçar ao que vieram)
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Depende: veremos se desta vez as filhinhas do Coelho têm ambas prendinha de natal ou se são, como no ano passado, “apenas para a mais nova”.
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Já nem me lembrava desse paleio barato. Mas, não deixa de vir a propósito: quando um fulano nem na distribuição caseira consegue ser equitativo, não há muito mais a dizer.
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“Eu não conduzo”
Bem vindo à secret brotherhood!!!
(agora, diga-me que também não tem telemóvel e a mitocôndria gay que deve haver em mim pede-o em casamento 🙂 )
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Isso também era pedir demais: sou viciado no iPhone. O que de certo modo resguarda a minha impecável virilidade.
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Nobody’s perfect.
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Até me espanta que você esteja ligado à rede em vez de pastorear rebanhos.
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Mas esse é que é o ponto mais interessante: sou completamente urbano (Lisboa de nome e lisboeta de há três gerações – nunca vou “à terra”), com um assaz reduzido apreço pela “Natureza” (mais de uma semana longe de cidades e dá-me logo o craving de snifar tubos de escape) e alguma aversão a rouxinóis pipilantes, riachos gorgolejantes e amáveis memés. Já do deserto gosto muito.
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Nao sabe o que perde.
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“mitocôndria gay”. Tem graça as mitocondrias vêm da mulher.
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O Natal, para além doutras memórias, tem o condão de nos (re)colocar naqueles momentos que mais nos marcaram enquanto gaiatos. E o gosto e o cheiro são dos sentidos que mais perduram pela vida fora e que umbilicalmente nos remetem para momentos marcantes. Lembro-me da aldeia onde vivi em tempos das filhós e dos coscorões fritos em azeite pela minha avó. Recordo o cabrito assado num forno de lenha, tão saboroso, tão genuíno…
Do Bolo-rei tenho o previlégio de comer daquele que a minha mãe ainda vai fazendo…
A lampreia é coisa de cidade… não tenho memória!
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É a minha vantagem: sou um tipo da cidade com memórias do campo — o melhor de dois mundos. Pelo menos nas lampreias.
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Bom… Sara! Depois de ler estes comentários todos, lá terei que ser eu a ir às Caldas da Rainha provar o Bolo-Rei!
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Até fiquei aguada com este teu post, pá. Espero bem que tenhas sido brindado com uma fatia arbitrariamente fraquinha, ou que estivesses com uma embocadura melancoólica, porque uma das minhas menos bizantinas incumbências natalícias é ir à Nacional escolher um bolo-rei, e até à data ainda não fiquei mal. Tenho que ir averiguar.Depois reporto. Over and out.
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Fico à espera. Beijos.
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experimentem o bolo rei da Zarzuela (a pastelaria fica no cais do sodré) que é feito com os tradicionais frutos secos e as frutas cristalizadas. Muito bom mesmo! é uma verdadeira delícia.
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Vou experimentar, Sofia. Obrigado.
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então Luís, sempre experimentou o bolo rei da Zarzuela? espero que sim e que tenha gostado. eu sou suspeita porque adoro! O bolo ainda é feito como antigamente e é uma receita que tem permanecido inalterada desde 1963. Bom Apetite. Sofia
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Luis Miguel,
Que decepção e eu confio no teu gosto
Temos que experimentar essa Zarzuela
Entretanto este fim de semana vou à Pastelaria Garrett no Estoril e em querendo, nao custa nada trazer um para ti, Vou lá buscar os meus.
Encontro por vezes o Prof Marcelo. 🙂
Há muitos anos, bons eram os bolos que vinham de Lisboa para a terra.
Beijinhos
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Eu estou entusiasmado com a perspectiva de provar os da Rosa de Ouro, ali atrás da livraria Barata da Avenida de Roma (não sei se há outras). Os croissants são maravilhosos (mas são croissants â portuguesa, sem massa folhada). O Expresso da semana passada trazia um artigo sobre o assunto, mas aconselhava os da Mexicana — onde tudo tem bom aspecto mas sabe horrivelmente. Já nem se pode confiar nos semanários de referência (vide o caso do exterminador)…
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Como é que alguém consegue comer esses croissants da Rosa… lembro-me de lá ter ido comer um, e pedir para embrulhar metade – não tive a coragem de deitá-lo logo ali no lixo. Bons são no café da ciganada ali no Lumiar, o Trenó – e o bolo-rei não deve ser mau.
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O croissant da Rosa de Ouro é o melhor de Lisboa — embora chamar-lhe croissant fizesse corar um francês.
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Experimente o do Careca, no Restelo. Tem frutas cristalizadas não identificáveis e frutos secos em quantidade apreciável.
O 23 pára quase em frente.
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Obrigado, Marta. Conheço bem o Careca, vou dar lá um salto.
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Se para a crise tivessemos tanta colaboração como para a escolha do bolo-rei do Luís tinhamos o caso em vias de franca resolução. Os Portugueses têm-se de unir assim no trabalho.
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