Os velhos falam da morte nos cafés. Se amanhã não pagar, mande a conta para a morgue. Estranho a ausência do verniz confessional, das alusões religiosas — talvez habitem num mundo sem deuses. Descrições de humores, relatos de urgências. Queria visitá-la, mas fui tarde. Uma resistência às belas frases, às prosápias elegantes, à cultura (Broch: os poetas, intermediários do adeus). Gosto destes velhos que morrem sem bulshit.
Luís Jorge, a última vez que um velho fez alusões religiosas a propósito da sua morte, ou da morte de outro velho, ocorreu em 15 de Março de 1978, à sete da tarde, no Café Central de Vila Velha de Ródão. Disse, exactamente, isto, o velho: “Irei eu encontrar, na companhia de Deus, de seu Filho Jesus Cristo e de São Pedro e dos Arcanjos, meu falecido padrinho, meu bom Arménio? Enche aí o copo e joga que é a tua vez.”. Sei isso, porque nesse dia, a essa hora, estava a encher uma bexiga de porco para jogar à bola com meus primos. Pronto, sem desfazer, tem aí uma prosa elegante, yes i tis. (o Broch é que era escusado, enfim…)
GostarGostar
O Broch é bom.
GostarGostar