O país está repleto de artolas para quem aquilo que temos de bom é invariavelmente o melhor do mundo. As nossas praias são as melhores do mundo. Os nossos vinhos são os melhores do mundo. Lisboa é a mais bela cidade do mundo (e o que diriam se a Câmara limpasse de vez em quando a bosta acumulada nos jardins e multasse os automóveis que assoberbam os passeios).
Como é evidente, também os florilégios das nossas cozinheiras formam aos olhos dessa gente a melhor gastronomia do mundo. Que os chineses, os franceses, os italianos, os japoneses, os peruanos, os mexicanos, os marroquinos, os tailandeses e os indonésios lhes perdoem, a esses patêgos que arrotam postas de pescada de pulseirinha na água choca em Cancun e Varadero, porque eu não consigo.
Se temos a melhor cozinha do mundo, porque é que ainda não comi umas favas decentes desde que regressei a Lisboa? Umas favas, senhores: não são lombos de cavalo-marinho com redução de beluga em cama de línguas de colibri das montanhas rochosas e aipo-bola flambeado. São favas, caralho.
É assim tão difícil, para os génios que pontificam nos nossos tascos, servir umas favas que se traguem: feitas com enchidos das berças, com molho apurado, com um pouco de amor? Será que tenho de ir comer favas ao Pap’Açorda?
Favas com molho apurado e com amor, ainda por cima? Só na casa das nossas mãezinhas, que são as melhores do mundo.
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Tasca, tasca boa, é a Adega dos Lombinhos. Rua dos Douradores. Vai gostar. É tudo bom, até os peixinhos da horta.
Faltou-lhe dizer uma coisa: as nossas são as melhores coisas do mundo, quando confrontados com um estrangeiro. Entre nós é insultuoso dizer semelhantes coisas. É preciso sofrer-se esta merda…. se eu digo a um amigo que não acho que Portugal seja organicamente mau, dizem-me logo que isso é porque sou um poltrão que beneficia das maravilhas do estrangeiro.
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Vou experimentar, obrigado pela dica.
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Pode comê-las facilmente em Trás-os-Montes e no Douro. Claro que os restaurantes de que falo não têm a sofisticação (nem os preços) do Pap’Açorda!
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Sou um leitor assíduo e divertido deste blogue.
Por isso permito-me exprimir-lhe a minha perplexidade pela ingenuidade, vinda de alguém com tanto “mundo”.
Pressinto no entanto, que esse seja o eterno problema dos “gourmets” citadinos: desconhecem alguns elementares fenómenos da natureza, como por exemplo os ciclos das plantas.
Estamos de acordo que vivemos num pardieiro apinhado de chauvinistas, mas a resposta à sua inquietação é bem mais prosaica e talvez possa encontrá-la em almanaques como o “Borda d’água” ou o “Seringador”.
Em caso de incursão ao “Pap’Açorda” antes de Janeiro ou Fevereiro, atrevo-me a avisá-lo que se arrisca fortemente a que lhas sirvam congeladas.
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Tem a certeza? Eu era capaz de jurar que era agora. Penitencio-me com humildade.
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Eu, congeladas, também não consigo comer. Favas crocantes não são o meu género 😉 Fernando, o ciclo de vida das plantas está muito sobrevalorizado para este efeito. O Borda d’Água manda semear e colher, não manda comer. Faça-se a congelação bem feita, e esteja o molho bem puxadinho, nem o Fernando conseguiria distinguir a coisa. O amor pode tudo.
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Estou a antecipar uma polémica. Para mim, Outono é tempo de favas. E para mim o outono começa agora, quer o Borda D’água queira quer não queira.
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Esta é fácil:
Espaço Açores, na Ajuda. Umas favas d´unha daqui! (apertar o lóbulo)
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Ok, fica o recado.
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Favas fresca só entre Março e Junho.
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Então mas não era em Janeiro? Cum catano, decidam-se.
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Já chego tarde à polémica, mas ao que sei, o penúltimo comentador tem razão, Luís, toda a fava portuguesa é primaveril, Luís. Conforme o clima de cada ano, semeiam-se do final do Outono ao final do Inverno. As primeiras costumam aparecer lá por Fevereiro (ou mesmo já em Março). O Borda d’Água (sim, comprei…) deste ano vinha escandalosamente aldrabado – mandava fazer a primeira sementeira em Fevereiro.
[Em pequena detestava favas. Nunca detestei um alimento com tanto vigor. Hoje, não sei bem porquê, gosto daquelas muito pequenas, salteadas em vinagre, com morcela de jeito.]
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com morcela de jeito é importante.
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Credo, quase lhe gastava o nome, sorry.
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Aqui, no Algarve, favas semeiam-se a partir de agora e estão prontas em Fevereiro. Depois apanham-se e comem-se, gulosamente no meu caso, durante uns tempos feitas à maneira algarvia/baixo alentejo: cozidas na panela de pressão e depois regadas com molho de cchouriços vários e fatias fininhas de touchinho. Se quer deliciar-se pode vir até ao Barrocal algarvio que qulquer tasca decente o deixará altamente satisfeito e a pedir “bis”.
Já vi, que tal como eu, não é pitagórico no que diz respeito a favas, pelo contrário. Bem vindo à claque de adeptos.
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Já estou com água na boca.
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Em minha casa são fantásticas… com morcela de arroz, está claro! uma iguaria que a família já não dispensa.
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E eu aqui em Berlim sem saber sequer onde as encontrar congeladas!
Deviam dar um subsídio por causa dos custos de insularidade aos emigrantes.
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deixe lá, pelo menos está em Berlim.
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Ah, tem graça. Tinha-me esquecido que isso podia ser uma espécie de compensação…
Vão-se as favas, fiquem os berliner.
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ich bin ein favein.
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Pois meu caro eu durante anos fui como o Jacintinho em Tormes, abominei favas. E agora choro por elas.Mas também e como bom provinciano de origem,frescas eram as do início da Primavera. Estando de serviço e não tendo a receita de cabeça, depois lhe mandarei uma receita da minha Avó paterna, as ditas com molho amarelo. E se gosta de caça de pena, uns pombos-bravos como os fazia a minha Avó Inêz ou umas codornizes à Faustino Antolin. Ai o Outono …
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Fico ansiosamente à espera. Não me falhe por favor.
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Agradeço as dicas a todos.
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No painel de Alcantara, penso que á Sexta Feira.
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Aí está uma boa dica.
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Veja que, ainda, ninguem se lembra de as comer, às favas, digo, em vagem. Tem que que ser das primeiras, em Fevereiro/Março, ainda tenrinhas.
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